Benito Paret
O Brasil não pode continuar caminhando à margem de um mundo que se move a gigabytes por segundo. Ou disponibilizamos conexão a velocidade compatível com os conteúdos ofertados ou nos desconectamos definitivamente do mundo que se anuncia.
Além da urgência de providenciar inclusão e velocidade de tráfego, que o Plano de Banda Larga do Governo Federal promete resolver, é preciso desenvolver conteúdos nacionais e garantir que os mecanismos implantados sejam sustentáveis.
A primeira iniciativa para promover a inclusão digital no Brasil foi a criação do CDI, em meados dos anos 90.
Esse programa instalava em associações de moradores, creches e outros espaços das comunidades o saldo de equipamentos resultante das trocas ocorridas. Era um modelo sustentável, porque essas entidades autogeridas cobravam uma quantia compatível com o poder aquisitivo local para prestar serviços aos moradores.
Outra iniciativa foi a criação de laboratórios nas escolas, modelo limitado, porque abrangia poucos alunos e a maioria dos professores estava despreparada.
Depois surgiram as primeiras lan houses, ocupando espaço nas regiões mais pobres. Finalmente, a partir desta década começam a ser instalados centros gratuitos, iniciativas públicas, fornecendo o hardware e a conexão de internet, mas sem os conteúdos adequados. Estruturas autônomas, desconectadas de estruturas formais, como bibliotecas ou escolas, arriscam seu futuro pela ausência de uma política de sustentabilidade.
É importante notar que, em recente pesquisa do IBGE, a grande maioria dos brasileiros utiliza meios privados para se conectar à internet: o domicílio, o trabalho ou as lan houses – principal meio de acesso nas comunidades carentes e regiões mais pobres.
Apenas parte residual da população visitou a internet. Essa realidade sugere que não basta botar computador e internet à disposição das pessoas. É preciso conectar a escola com o domicílio, capacitar professores, desenvolver conteúdos para a educação formal e social de jovens e adultos.
Mais que isso, disponibilizar banda larga, num modelo público/privado que aproveite a estrutura de provedores e lan houses como instrumento de interconexão. Só uma aliança entre o Estado e a iniciativa privada poderá gerar um modelo de inclusão sustentável. Sem isso, jamais passaremos da porta da Sociedade do Conhecimento.
*Benito Paret é presidente do Sindicato das Empresas de Informática do Rio de Janeiro.
Jornal: O Globo
Data: 16/03/2010
Caderno: Primeiro Caderno
Seção: Opinião
Autor: Benito Paret
Página: 7