Por mais louváveis que tenham sido as intenções das políticas industriais postas em prática nos últimos anos, nenhuma conseguiu, até agora, equilibrar a balança comercial em alguns setores vitais da economia brasileira. Essa realidade torna-se mais evidente em áreas que exigem maior valor agregado e tecnologia. Bom exemplo disso é o histórico das trocas com o exterior na área de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC).
O Brasil exportou, ano passado, aproximadamente US$ 4,7 bilhões em produtos do setor de tecnologia da informação. Isso correspondeu a um aumento de apenas 1% em relação a 2009. No caminho inverso, importou US$ 34,9 bilhões em produtos da mesma natureza.
Mais que o volume em dólares, esse montante correspondeu a um crescimento de 40% em relação ao ano anterior. Ou seja: enquanto a carreta das exportações avança a 1% ao ano, a que vem em sentido contrário, na banguela, desce a 40%. Um déficit de US$ 30 bilhões, em apenas um ano, é mais que um sinal amarelo.
Num exemplo mais específico: em 2004, importamos 73% do software consumido no Brasil. Gastamos US$ 1,72 bilhão em compras. O que fizemos de lá para cá? Conseguir baixar esse percentual para 71%, em 2009 comprando US$ 3,88 bilhões? Em cinco anos um aumento de 125%, no volume importado. Daqui a outros cinco, no mesmo ritmo, gastaremos pelo menos US$ 5 bilhões.
Quando o Governo Federal se prepara para lançar, este mês, uma nova versão da Política de Desenvolvimento Produtivo, voltada para tentar botar um freio no crescimento das importações, poucos setores se ajustam melhor a esse objetivo que o de software. Nessa estratégia, mais que olhar para as exportações os técnicos que elaboram a nova política precisam se preocupar com a reconquista do mercado interno. É nessa área que perdemos terreno, ano após ano.
Os primeiros sinais da nova política em elaboração indicam uma justa preocupação com as áreas de confecções, de calçados, onde a tsunami chinesa se expande. Mas essas são áreas onde temos condições de concorrer, com maior eficiência e redução do custo Brasil. Muito mais complexo será competir na área tecnológica, onde perdemos terreno aceleradamente, num mundo onde os competidores estão anos luz à nossa frente.
O Brasil não é um grande exportador de carne e commodities agrícolas apenas porque tem grande extensão rural. Tornou-se grande porque investiu anos a fio na Embrapa. O Nelore e a soja brasileira são maravilhas tecnológicas construídas aqui. Somos concorrentes de peso na aviação de médio porte porque investimos na tecnologia da Embraer.
Tornamo-nos o principal exportador mundial de minério de ferro porque investimos em logística e na tecnologia de produção. A Petrobras é líder na produção de petróleo em águas profundas, porque investiu em tecnologia.
Ao participar da Abinee TEC 2011, no final de março, o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, acenou com a criação de novos fundos setoriais para capitalizar os investimentos em Ciência e Tecnologia e Inovação. Falou da importância do software e prometeu anunciar novidades, em abril. É um bom começo.
Mas há muito a fazer: temos que aproximar as universidades das empresas, estudar novos incentivos fiscais, investir na formação de mão de obra especializada, garantir contratos na área governamental, definir regras flexíveis para a contratação de pessoal e diminuir os encargos sociais. Mais que a locomotiva chinesa, a invasão tecnológica na tecnologia da informação é um trem sem freio que não respeita sinais.
*Benito Paret é presidente do Sindicato das Empresas de Informática do Estado do Rio de Janeiro.
Site: Convergência Digital
Data: 30/05/2011
Hora: 16h
Seção: Opinião
Autor: Benito Paret
Link: http://convergenciadigital.uol.com.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=26460&sid=15