Benito Paret*
O Brasil não pode dar-se por vencido na corrida tecnológica na área de TI. Se não pelo fato de estarmos perdendo o bonde da história no principal segmento industrial do século XXI, no mínimo por uma questão de segurança na estratégia de defesa do país.
A denúncia da espionagem dos Estados Unidos sobre as comunicações telefônicas e de dados em inúmeros países levanta questões muito importantes: o ambiente da web é seguro? O que fazemos para nos proteger? Estamos sendo culturalmente engolidos pelos milhares de aplicativos embutidos nos smartphones, tablets e notebooks que invadem o mercado?
O avanço galopante da convergência digital, incrementada pela compra da Motorola Mobility pela Google e da Nokia pela Microsoft, une agora hardware e software em grandes conglomerados que passam a controlar parte cada vez maior das atividades humanas. Isto sem ignorar os chineses, que crescem aceleradamente.
A computação em nuvem, sistema de armazenamento de dados que cresce exponencialmente com os milhões de arquivos de empresas, pessoas e corporações, levanta dúvidas que só agora começam a preocupar os nossos dirigentes. Estudo internacional realizado pela CompTIA detectou que 55% das empresas brasileiras já utilizam algum tipo de serviço em nuvem.
Quem administra e onde estão instalados os data centers e servidores que prestam esses serviços? O Projeto do Marco Civil em discussão no Congresso prevê a obrigatoriedade da presença deles em território nacional.
Nosso Código de Telecomunicações é de 1962, quando não havia sequer internet nem celulares. Pesquisas recentes constatam que a participação brasileira nos aplicativos que residem em nossos smartphones é insignificante. Investimos quase nada em aplicativos em língua portuguesa, o que agrava cada vez mais a perda da identidade cultural do país. Nossos jovens estão sendo formados aceleradamente por uma cultura estranha à nossa realidade.
Temos inteligência e competência acadêmica para criar uma indústria de TI genuinamente nacional. Necessário é renovar a cultura acadêmica para que ela possa unir-se aos empreendedores. A Lei 12.485, que obriga as TVs a cabo a exibir maior percentual de conteúdo nacional, abre amplo espaço para que se desenvolvam aplicativos nacionais. Mas é preciso que se ampliem os recursos financeiros destinados à inovação, para que isso se torne realidade.
A Finep tem investido muito pouco na inovação. O que nos falta, além de recursos, é foco nas aplicações. Nossas linhas de fomento atiram para todos os lados. As denúncias de Edward Snowden reforçam o que se sabe há muito tempo. Se levadas a sério e o governo ficar apenas no discurso político, devemos fortalecer a indústria nacional de TI. Jovens criativos e empreendedores não nos faltam. Nem cérebros nas nossas universidades.
Falta vontade política.
*Benito Paret é presidente do Sindicato das Empresas de Informática do Rio de Janeiro.
Jornal: O Globo
Data: 06/11/2013
Seção: Opinião
Autor: Benito Paret
Página: 19