A discussão sobre o pagamento de direitos autorais na produção de conteúdo gerado pela Inteligência Artificial (IA), foi um dos pontos em pauta no Rio Info 2023, realizado dia 18 de setembro, no Rio de Janeiro. O tema central da 21a edição do evento, realizada no Clube de Engenharia, foi ‘Inteligência Artificial e Negócios’. Diferentes aspectos foram tratados, desde os riscos que o setor da tecnologia no Brasil enfrenta face à proposta de reforma tributária em tramitação no Congresso, à deficiência no ensino.
O presidente da Federação Nacional das Empresas de Informática (Fenainfo) Gerino Xavier, defendeu que aquele que faz as perguntas que levam à geração do conteúdo do ChatGPT, por exemplo, é o autor. Portanto, o detentor dos direitos autorais. Isabela Frajhof, professora na área de direito e novas tecnologias no Instituto de Direito da PUC-Rio, afirma que a discussão está em aberto. Ela entende que o conteúdo é uma criação humana e não da máquina e, dessa forma, a plataforma não deve ter direitos.
Já José Ricardo Silva Júnior, professor do Instituto Federal do Rio de Janeiro e coordenador do grupo de pesquisa GSimCog – Grupo de Simulação e Computação Gráfica, disse que a IA é uma fonte de inspiração. Seu material não deve ser copiado. A IA, dessa forma, é uma ferramenta que permite otimizar o tempo, com a reunião rápida de informações e incremento das discussões pelas equipes. Os humanos devem utilizar o conteúdo reunido e, por meio de suas experiências pessoais, definirem os produtos finais.
Políticas públicas – Benito Paret, presidente do TI Rio (Sindicato das Empresas de Informática do Rio de Janeiro), destacou que a importância da TI para o desenvolvimento do país. Lembrou que é uma atividade presente em todas as atividades da sociedade, com intensa geração de empregos. “O software brasileiro é criativo, está presente em qualquer segmento, da agricultura à saúde. Está nas pequenas ações àquelas de impacto nacional. Sua importância tem que ser entendida e estar presente na formulação das políticas pública.”
Gerino citou a China, que está investindo na formação de 50 mil alunos em engenharia para prompt como exemplo de política pública focada. O Brasil crê que sinaliza no sentido contrário com a proposta de reforma tributária. Ele afirma a necessidade de o país enxergar a TI como protagonistas. “Se a reforma passar como está, o setor ficará como um coadjuvante. Os tributos previstos inviabilizam o setor”.
Formação de profissionais para IA – A secretária municipal de Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, Tatiana Roque, informou que está adiantada a parceria entre a prefeitura e a Coppe/UFRJ para instalação de um hub de TI, com foco IA, no prédio do antigo Automóvel Clube do Brasil, situado na Lapa, no Centro do Rio. Segundo a secretaria, haverá investimento na formação e qualificação de profissionais, especialmente engenheiros para incremento do setor na cidade. A intenção, assegurou, é utilizar a capacidade instalada, como por exemplo a da Petrobras, para fazer a transição da matriz energética com a migração do petróleo para as fontes renováveis.
A questão da formação foi preocupação também do professor Carlos Eduardo Pedreira da COPPE-UFRJ, onde chefia a linha de IA do programa de engenharia de sistemas e computação. Para ele a IA exige nível de qualificação mais elevado dos profissionais envolvidos e tem feito uma troca que leva à exclusão dos não qualificados. Outro ponto que afeta o setor no Brasil, disse, é o fenômeno dos “nômades digitais”, que são os profissionais contratados por empresas estrangeiras, especialmente europeias e dos EUA. Essas pessoas trabalham remotamente a partir de qualquer parte do mundo e desfalcam as empresas que poderiam atender em seus países. “E recebem salários que são altos aqui, mas da parte de baixo dos países empregadores.”
No painel sobre IA nos negócios, com participação de Rafael Nasser, diretor do Instituto ECOA PUC-Rio – unidade de desenvolvimento e inovação da universidade; Danilo Zimmerman, CIO da Dasa desde e Alaor Neto, gerente de negócios para a vertical de energia NVIDIA Enterprise e responsável pelas iniciativas de software na América Latina. Foi destacada a necessidade de conectar os mundos físico e digital, sempre potencializando o ser humano. Nesse quadro, a melhor métrica para entender sua importância é a otimização do tempo. Ou seja, a possibilidade de mais tempo livre para as pessoas. Um caminho para conseguir com que ela (IA) funcione a favor da humanidade é sua utilização regular, para que, mais treinada, trabalhe a favor. O mote das discussões foi de que a IA não é uma tecnologia neutra e independente e, por isso, pode ser utilizada tanto para o bem, como para o mal.
Investimentos para diminuir atraso – O professor Alvaro Coutinho da Coppe, onde coordena o Núcleo Avançado de Computação de Alto Desempenho (Nacad), responsável pelo supercomputador Lobo Carneiro, o mais potente instalado em uma universidade pública federal, diz que o Brasil está “mil vezes atrás” dos EUA em capacidade de processamento de dados. Segundo afirmou, se não houver investimentos urgentes o país perderá capacidade competitiva. Atualmente, informou, o Brasil é o décimo do mundo, com dez supercomputadores instalados, dos quais seis pertencem à Petrobras. “Estamos atrasados e, se não fizermos nada, perdemos o bonde e a desigualdade só aumentará.”
Coutinho defendeu a ênfase no ensino da matemática. “Vivemos uma matematização do mundo. Os fundamentos da matemática são cada vez mais importantes.” Segundo disse, aprender e ensinar matemática deveria ser como aprender um novo idioma. Para ele álgebra linear e estatística são fundamentais no ensino, para os estudantes entenderem os princípios e poderem construir seus próprios programas e deixarem de usar programas que já veem prontos, fechados. “É necessário estudar os fundamentos”
O coordenador geral do Rio Info e diretor executivo da Riosoft, Alberto Blois e o diretor geral Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, Campus Engenheiro Paulo de Frontin, professor Ricardo Esteves Kneipp, anunciaram a realização na instituição de uma edição regionalizada do Rio Info no mês de dezembro.