A descoberta do pré-sal e os megaeventos esportivos programados para os próximos sete anos descortinam uma janela de oportunidades econômicas há muito tempo esperada pelo Rio de Janeiro. Os investimentos na área do petróleo e no setor esportivo movimentarão enorme cadeia de fornecedores de bens e serviços, com a consequente geração de milhares de novos empregos. Conjuntura tão favorável é motivo de sobra para que se comemore. Mas é preciso que oportunidade tão rara não se esgote na transitoriedade dos negócios gerados.
Reservas de petróleo, por maiores que sejam, um dia acabam. Copas do mundo e olimpíadas passam.
Mas não precisa necessariamente ser assim. Se o esgotamento de reservas na indústria do petróleo já criou enormes hipertrofias sociais e econômicas para alguns lugares onde isto ocorreu, a Noruega está aí para provar que é possível ser diferente. E se olimpíadas e copas do mundo podem deixar como herança gigantescos cemitérios de concreto, Barcelona é o melhor exemplo de que as oportunidades de negócio que elas abrem podem gerar competências econômicas, tecnológicas e industriais que se desdobrarão em novos negócios.
As perguntas que emergem dessa realidade são: que legado nos restará, passados os eventos? O que sobrará para nós? Só um planejamento que vá além do transitório nos responderá com segurança.
A Noruega investiu em inteligência e desdobrou os royalties do petróleo na criação de competências tecnológicas e industriais em vários ramos que derivaram da cadeia de fornecedores. Barcelona tornou-se um completo complexo turístico e agregou valor a dezenas de vertentes industriais e de serviços que resultaram dos investimentos motivados pelos eventos esportivos.
Reconheça-se que tanto o Governo Federal quanto a Petrobras têm se preocupado em criar uma cadeia de fornecedores de bens e serviços sólida no Brasil. Têm estimulado a indústria naval e setores da indústria de base. Mas ainda há muito a fazer-se, principalmente nos ramos mais sofisticados, onde a cadeia de valor exige mão de obra especializada e desenvolvimento tecnológico. A Petrobras ainda é uma grande compradora de pacotes tecnológicos prontos no exterior. Principalmente na área de tecnologia da informação. Contratar no mercado nacional, nessa área, será tão, ou mais importante, do que investir na indústria de transformação, de vez que gera empregos de qualidade e desenvolve competências tecnológicas que se desdobrarão para outros segmentos. Foi o que a Noruega fez.
Os grandes eventos esportivos programados para o Rio de Janeiro certamente se desdobrarão na ampliação do complexo turístico da cidade e na melhoria do sistema de transporte. É o que se tem ouvido. Mas para além da logística do transporte e da hotelaria há uma infinidade de outros setores industriais e de serviços cujo desdobramento precisa ser planejado.
A tecnologia para gerir os eventos que se esconde por trás das megaconstruções e dos sistemas de transporte não pode vir como pacote fechado do exterior. Um bom planejamento nessa área pode evitar que nos transformemos em meros fornecedores de pedreiros e carpinteiros para virar massa e construir tapumes. Precisamos aproveitar a oportunidade para gerar competências mais sofisticadas. E o Rio de Janeiro tem massa de inteligência disponível. Estão aqui várias das melhores universidades e centros de pesquisa brasileiros. Basta verificar o que se tem na área de TI.
Mais que a festa dos eventos, é preciso que nos debrucemos sobre o espectro de oportunidades e decidamos com inteligência. Temos a chance de gerar aqui um novo e sofisticado parque econômico. Que Barcelona e Noruega nos sirvam de exemplo. Para que depois que o pano cair e as luzes se apagarem floresça uma nova economia. Que seja esta a nossa herança.
*Benito Paret é presidente do Sindicato das Empresas de Informática do Estado do Rio de Janeiro
Jornal: Jornal do Brasil
Data: 13/12/2009
Página: Opinião – A11