RIO – O Brasil está diante de uma encruzilhada: ou investe maciçamente em ciência, tecnologia e inovação para aumentar a competitividade de sua economia, ou volta à velha fórmula de manipular o câmbio e elevar barreiras alfandegárias, reeditando as políticas que seriam inadequadas na economia globalizada.
O saldo positivo da balança comercial brasileira recuou 67% no primeiro quadrimestre e vários analistas já indicam déficit progressivo até o final do ano. Embora as exportações em abril tenham subido 23% sobre abril do ano passado, as importações subiram 60,8%. Esses dados fizeram o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral, fazer um alerta: “A questão é que a indústria nacional não pode perder vendas no mercado doméstico, já que lá fora a grande concorrência com outros mercados, como a China, e o câmbio, tiram competitividade dos produtos nacionais”.
Essa é a questão. Vários industriais e empresas de serviço brasileiras já fecharam as portas ou começam a trocar a produção própria por produtos importados, para não perder mercado. Diante disso, a solução mais saudável é agregar valor aos nossos produtos e aumentar a competitividade da indústria e dos serviços brasileiros, para fazer frente à concorrência dos importados. E isso se faz com redução de custos e investimento em inovação. Principalmente em tecnologia da informação.
Como enfrentar uma China que absorverá nos próximos dez anos 350 milhões de novos operários oriundos do campo e dispostos a trabalhar a qualquer preço? Como concorrer com uma Índia e Tigres Asiáticos que investem bilhões de dólares em tecnologia e educação? Como diz o adágio popular, quando achamos que já temos todas as respostas, vem a vida e muda as perguntas.
Essas são as novas questões a serem respondidas. E não há melhor lugar para isso do que a IV Conferência Nacional de Tecnologia, Ciência e Inovação, que ocorrerá em Brasília entre os dias 26 e 28 deste mês.
Decorrem 25 anos desde a primeira conferência, que teve o mérito de reatar o diálogo entre o governo e a comunidade científico-tecnológica, interrompido durante o período autoritário. Na segunda nasceu o novo modelo de financiamento, fortalecendo os fundos setoriais. A terceira, em 2006, teve como objetivo demonstrar como a ciência, a tecnologia e a inovação poderiam ser usadas para promover o desenvolvimento econômico e social.
O tema desta quarta conferência não poderia ser mais oportuno: Política de Estado para Ciência, Tecnologia e Inovação visando ao Desenvolvimento Sustentado. Sem uma política de Estado consequente e objetiva, nosso sonho de desenvolvimento sustentado naufragará na inundação globalizada, e as expectativas favoráveis que o mundo tem com relação ao Brasil serão mais uma vez desperdiçadas.
Benito Paret é presidente do Sindicato das Empresas de Informática do Estado do Rio de Janeiro.
Jornal: Jornal do Brasil
Data: 10/05/2010
Caderno: Primeiro Caderno
Seção: Sociedade Aberta
Autor: Benito Paret
Página: A11