Benito Paret* O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho registrou, desde o início do ano, queda acentuada nos níveis de emprego da indústria e do comércio, a reboque da crise, enquanto a área de serviços continua a gerar novos postos de trabalho. Longe de ser um paradoxo, os números do Caged confirmam mudança esperada no perfil da demanda por mão-de-obra. Daqui por diante, e cada vez mais, será o setor de serviços o grande gerador de empregos.
Turbinada pela crise, a competição agressiva do mundo globalizado impulsiona a robótica, que esvazia o chão da fábrica; o e-business, que esvazia o balcão da loja; e a mecanização da agricultura, que desemprega no campo. Caminhamos, irreversivelmente, para a Era dos Serviços. O mundo mudou. E o que essa crise anuncia é que muito do emprego destruído no comércio e na indústria não será restaurado. A cada crise aumenta a automação na indústria e a mecanização na agricultura. É a lei da produtividade. Com a universalização da internet, o e-business devorará cada vez mais postos no comércio.
No mundo que se anuncia, resta a questão: a quem caberá o financiamento da seguridade social? Na crise do emprego abundante, o modelo apoiado em encargos sobre a folha de pagamentos está com os dias contados. Porque o mundo do emprego que conhecíamos morreu. Queiramos ou não, cede cada vez mais espaço para a Era do trabalho remoto, do empreendedor autônomo, dos serviços terceirizados. São novas relações de trabalho, não amparadas pela CLT, obsoleta.
O que essa crise nos mostra é que já passou da hora de se rever a forma de financiamento da seguridade social. Porque a folha de pagamento das empresas de serviço, por mais que cresça, não suportará o custo dos encargos previdenciários. Nem é justo que o único setor que cresce seja penalizado. Seria matar a galinha dos ovos de ouro. Já se sugeriu, como alternativa, que esse encargo recaia sobre o faturamento das empresas; ou que se crie um tributo sobre a movimentação financeira. Mas é preciso passar da sugestão à prática.
A mudança acelerada no perfil do emprego nos cobra, também, regulamentação urgente de novas relações trabalhistas. Se funcionou muito bem na Era Industrial, a CLT não se ajusta mais a um mundo que mudou. Na Era do Conhecimento, as empresas serão cada vez mais ágeis e mutáveis. E as relações profissionais cada vez mais tênues e flexíveis. Porque não serão os maiores que comerão os menores, mas os mais rápidos que comerão os mais lentos.
*Benito Paret é presidente do SEPRORJ – Sindicato das Empresas de Informática do Rio de Janeiro
Fonte: Jornal O Globo, Caderno Opinião, página 7, 16 de maio de 2009.