O Futuro das Profissões: como a tecnologia transformará o trabalho dos especialistas

Nos exercícios de futurologia, quando o assunto é tecnologia existe a tentação de conduzir a discussão sob o pressuposto de que o novo e o antigo estarão em confronto absoluto: ou um ou outro. Foi o que aconteceu quando foram lançados os primeiros livros eletrônicos e se colocou a pergunta: quais as chances de eles substituirem o livro impresso convencional?

Via de regra a história nos revela que não existe esta dicotomia radical. No caso dos livros o que se verificou foi uma convivência pacífica entre ambas as opções: pesquisas recentes mostram que, decorridos quinze anos, salvo em situações específicas como nas leituras de forte aspecto visual ou notícias, o que vemos ainda hoje é uma prevalência da preferencia pelo meio impresso, especialmente no domínio universitário.

O tema deste nosso post aborda questão semelhante relacionada ao efeito das novas tecnologias na vida das pessoas e da sociedade: qual o futuro das profissões e do trabalho dos especialistas face à internet, ao acesso à informação e à colaboração entre as pessoas, e a aplicações de inteligência artificial? Trata-se de uma reflexão sobre o livro publicado por Richard Susskind e Daniel Susskind, no qual eles prevêem um novo contexto do trabalho dos especialistas em diversos domínios do conhecimento.

Eles tratam de seis categorias específicas de profissionais: advogados, arquitetos, contadores, jornalistas, médicos e demais profissionais da saúde e professores, além de uma atividade genéricamente por eles denominada “consultor de gestão”, que englobaria administradores, economistas, analistas de sistemas e outros personagens envolvidos com o apoio às empresas no equacionamento e solução de seus problemas.

No entendimento dos autores, não será mais possível pensar nestas carreiras em seu formato tradicional. O uso das novas tecnologias levará à ampliação das possibilidades de aquisição, preservação e disseminação do conhecimento dos especialistas, e na forma como ele já está sendo (ou poderá vir a ser) acessado e usado pela sociedade.

Esta nova realidade não significará o fim destes profissionais, mas haverá uma inevitável transformação no desempenho das suas atividades e no relacionamento com aqueles que usufruem de seu conhecimento especializado, a partir da incorporação da tecnologia, em duas direções distintas:
 

(1)maio eficiência na forma como o trabalho é hoje executado, especialmente pela automação de tarefas que requerem baixa qualificação: distribuição on line de material de aula pelo professor, ou uso de textos padronizados para elaboração de petições pelos advogados, entre outras;

(2) disrupção na forma de execução das tarefas mais nobres e que envolvem o conhecimento especializado dos assim chamados “trabalhadores do conhecimento / knowledge workers”. No caso dos advogados, por exemplo, realizar pesquisa jurisprudencial para encontrar precedentes que melhor se aplicam ao caso concreto de seus clientes.

É este segundo sentido que propomos discutir: em uma era em que as máquinas podem desempenhar uma série de tarefas apoiadas em sofisticados algoritmos, qual será o futuro dos humanos em geral e dos profissionais especialistas?

Autores renomados têm recentemente manifestado opiniões bastante cautelosas a respeito da perspectiva de funcionamento das máquinas como substitutas da inteligência humana: “a narrativa pública dominante sobre a inteligência artificial é que estamos construindo máquinas de inteligência crescente que acabarão por superar a capacidade das pessoas”.

Esta percepção equivocada não é compartilhada pelos pesquisadores: máquinas não tem cérebro (intelecto) e são claras as evidências de que jamais terão.

A inteligência artificial é simplesmente uma continuação de prolongados esforços para automatizar tarefas, e seu atual sucesso em muitas áreas é decorrência da aplicação de um conjunto crescente de ferramentas e técnicas que nos possibilitam obter vantagens dos avanços no poder computacional das máquinas, do aumento da capacidade de armazenamento e tratamento de dados (bigdata) e da maior sofisticação e precisão dos algorítmos.

Como dizem especialistas da área, “estamos certamente usando máquinas para desempenhar toda uma sorte de tarefas do mundo real das quais as pessoas anteriormente se encarregavam usando sua inteligência nativa, mas isto não quer dizer que os computadores sejam dotados de inteligência”.

Entendido o significado e o propósito da inteligência artificial, os avanços na ciência da computação não desmerecem nem substituem a capacidade humana. Em vez disso, nos liberam para realizar tarefas cada vez mais ambiciosas e nobres.

Concluindo, voltamos então à proposição de Daniel Susskind: no longo prazo, provavelmente deixaremos de enxergar o trabalho em termos de profissões, como médicos, professores e advogados, mas sim em termos de tarefas: quais caberão aos humanos executar? quais problemas eles terão que equacionar e resolver? e como o computador poderá tornar as tarefas humanas de pensar e de tomar decisões mais eficazes?

Então, antes de saber como usar a tecnologia para apoio à maior efetividade de um profissional especialista e à adoção de uma forma diferenciada de interagir com os clientes ou com a sociedade de uma forma geral, temos que conhecer as tarefas essenciais que fazem parte de cada profissão específica.

Voltaremos ao tema em uma próxima publicação, abordando o domínio dos profissionais do direito: advogados, magistrados e demais operadores da área jurídica.

 

Fonte: Blog do Newton Fleury
Link: medium.com/@fleurynewton

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