O fetiche das máquinas

Vivemos um momento crucial: a economia do mundo em crise, esfarelando-se os domínios consolidados no pós-guerra. Os emergentes, como nós, prestes a assumir novos papéis. Mas quais? Simples fornecedores de commodities sem valor agregado ou parceiros de uma nova economia em que o conhecimento é a principal moeda?

Recentemente o Presidente Obama convidou grandes empresários para um jantar na Casa Branca; no menu, a nova realidade econômica. Em outros tempos, quem seriam os convidados? Os presidentes das grandes indústrias, certamente. Desta vez os comensais foram os dirigentes das empresas da nova economia – Apple, Google, Facebook, Yahoo, Oracle, Twitter… Ficou claro que o futuro está no conhecimento.

O debate, no Brasil, reduz o patrimônio nacional a um conjunto de ativos reais óbvios: a Amazônia, o subsolo, prédios históricos etc. Mas se esquece, com frequência, de exaltar o patrimônio agora mais estratégico e só visível pelos resultados: o capital intelectual, o ativo intangível construído em muitos anos de estudos e pesquisas.

Sem o capital intelectual acumulado em décadas não descobriríamos o pré-sal, não exportaríamos aviões e softwares nem teríamos safras agrícolas recordes. São os verdadeiros ativos nacionais que precisam ser preservados e protegidos contra a concorrência predatória.
Mas o governo comemora as “conquistas” que teremos com a fabricação de tablets no país. Na verdade teremos mais projetos de montagem com importação dos “núcleos inteligentes”. Desde os tempos da tão mal falada reserva de mercado pensamos apenas em fabricar minis, micros, laptops, enfim, máquinas. E o software? E os conteúdos? Continuaram sendo importados ou simplesmente comercializados por multinacionais.

Não devemos assumir uma postura xenófoba, mas temos que defender nosso mercado e incentivar a pesquisa e a produção nacionais para que, pelo menos, não aumentemos a desnacionalização, que já supera os 70%. 

É preciso que, assim como faz com o pré-sal e a indústria naval, o governo garanta um quinhão do novo mercado de TI às indústrias nacionais de software, fortalecendo o mercado interno, hoje dominado pelas grandes multinacionais. É preciso que estas oportunidades geradas não se esgotem na transitoriedade dos negócios.

Vamos torcer para que nossa presidente se inspire no Obama e marque um jantar no Alvorada com a indústria nacional e os centros de pesquisa, que podem garantir um futuro mais independente.

Benito Paret é presidente do Sindicato das Empresas de Informática do Rio de Janeiro – SEPRORJ.

Jornal: O Globo
Data: 21/10/2011
Caderno: Economia
Seção: Digital e Mídia
Autor: Benito Paret
Página: 33

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