Artigo – O estouro da bolha da inteligência artificial nas startups

O abismo entre expectativas e entregas ocorre porque, em muitos casos, as startups têm utilizado a IA como uma ‘nova embalagem’ para serviços que já existiam

Estamos vivenciando um ciclo no qual a empolgação com a IA (inteligência artificial), especialmente com a IA generativa, tem levado a investimentos massivos e promessas grandiosas. Segundo a Lavca (Association for Private Capital Investment in Latin America, em inglês), o investimento em startups de IA na América Latina aumentou 8,6 vezes de 2019 a 2023, chegando a US$ 11,6 bilhões. Mas, como acontece com toda bolha especulativa, essa também vai estourar, e o momento está próximo. Em 2025, veremos uma reestruturação no mercado de IA, semelhante ao que ocorreu com a bolha da internet no início dos anos 2000 e, mais recentemente, com a bolha das criptomoedas.

Esse movimento já é perceptível. Muitas startups não têm conseguido entregar o valor que prometeram, enquanto investidores, ansiosos por retornos, as pressionam por resultados mais imediatos. Apesar dos grandes aportes recebidos para o desenvolvimento de IAs, grande parte das startups ainda não transformou suas soluções em produtos verdadeiramente inovadores ou com impacto significativo.

Uma pesquisa do Google for Startups sobre o mercado brasileiro de IA generativa revela números impressionantes. Em 2023, apenas 6% das startups que investiram na tecnologia conseguiram colocar uma aplicação em produção, e, em 2024, apenas 5% obtiveram alguma escalabilidade utilizando IA. Apesar do entusiasmo inicial, poucos resultados tangíveis foram alcançados, e grande parte das empresas ainda se encontra em fases de experimentação e aceleração. Na prática, muitos projetos não avançaram além do protótipo e carecem de estratégias sólidas para implementação e retorno financeiro.

Os casos mais frequentes de uso identificados no levantamento — como resumir informações (62%), listar fontes de dados (57%) e criar uma recomendação (54%) — são tarefas úteis, mas longe de serem disruptivas. Esse abismo entre expectativas e entregas ocorre porque, em muitos casos, as startups têm utilizado a IA como uma “nova embalagem” para serviços que já existiam. O setor está enfrentando, portanto, uma espécie de “peneira” inevitável, em que apenas as empresas que realmente entregam valor vão se manter no mercado.

Também segundo levantamento da Lavca, as plataformas de IA na América Latina estão projetadas para crescer 38%. Apesar disso, os desafios que a região enfrenta são inúmeros. Entre eles está o quoeficiente de pesquisadores por dólar que é investido em deep tech: 13 vezes menor na comparação com a China e 70 vezes mais baixo em relação aos Estados Unidos. O cenário regulatório em desenvolvimento também é considerado um desafio por especialistas. 

A previsão de que a bolha da IA irá estourar em breve não deve ser vista de maneira inteiramente negativa. Pelo contrário, é um processo de maturação do setor. Inicialmente restarão as startups e empresas que realmente entendem a tecnologia e conseguem trazer algo novo e impactante ao mercado. Isso permitirá que essas empresas recebam o apoio financeiro necessário para evoluir e outras startups com foco em IA possam surgir sem abertura para “experimentação infinita”. Ao mesmo tempo, parte dos investimentos pode ser alocada em outras tecnologias que tragam soluções reais para a sociedade. O tempo da imaginação passou para a IA; agora é hora de entregar resultados concretos.

Fonte: Nexo Jornal

Artigo de Rodrigo Grossi, COO da Dynadok, startup de validação documental por inteligência artificial que utiliza tecnologia proprietária e desburocratiza processos em vários setores.

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