O desafio da universalização da internet

Benito Paret

A universalização do acesso a internet é um desafio de grandes proporções. Segundo o Comitê Gestor da Internet, mais da metade dos brasileiros foram classificados, usando os parâmetros internacionais, como usuários de internet, o que significa que existem no Brasil, 85,9 milhões de usuários de internet ativos, e deles, 42,5 milhões  acessam usando celulares. Concluiu ainda, que 42% nunca tinham usado a internet, o que podemos considerar ser o universo que precisa ser incluído.

Um elemento a considerar  neste universo de usuários, é que  55% têm contratos de banda larga com velocidade de 2,4 Mbps, embora saibamos que apenas agora as fornecedoras, por exigência da Anatel, estão tornando mais real estas velocidades. Mas vale ainda comparar esses números com os Estados Unidos, onde a velocidade é de 8.7 Mbps ou na Coréia, com 13,3.

A existência de 3,5 milhões de domínios registrados e o aumento em transações bancárias, comerciais e de serviços mostram uma evolução muito significativa gerando uma dependência cada vez maior dos recursos da WEB.

Entretanto, nos deparamos com o fato que os endereços de IPv4  indispensáveis para a conexão nas redes de computadores se esgotaram em junho deste ano, o que obriga a um compartilhamento dos endereços ainda disponíveis.

Para entender as razões do esgotamento, é importante considerar que a Internet não foi projetada para uso comercial. No início da década de 1980, ela poderia ser considerada uma rede predominantemente acadêmica, com poucas centenas de computadores interligados. Em 1993, acreditava-se que o espaço de endereçamento da Internet poderia se esgotar, não ocorrendo por conta da quantidade de endereços, mas por conta da política de alocação inicial, sem utilização racional desses recursos.  Apesar disso, pode-se dizer que o espaço de endereçamento do IP versão 4  não é pequeno, já que atende a  4.294. 967.296 endereços (4×109).

O IPv6, oficializado em junho de 2012, é fruto do esforço  para criar a “nova geração” de IP, sendo implantado gradativamente, lado a lado com o IPv4, numa situação tecnicamente chamada de “pilha dupla”  por algum tempo e o substituirá  com capacidade de cerca de 3,4×1038  de endereçamentos.

O assunto é tão relevante que alguns governos têm apoiado essa implantação. No Brasil, um cronograma foi desenvolvido, com base no diálogo com operadoras de telecom e provedores de conteúdo, iniciando pela  adoção do protocolo nos “padrões de Interoperabilidade de governo eletrônico” e os sites de e-commerce . Para os usuários domésticos terá que ser planejada a forma mais rápida de efetivar esta migração

O principal fator que impulsiona a implantação do IPv6 é a necessidade de continuidade de negócios, para provedores e uma série de outras empresas e instituições. As grandes corporações têm realizado inúmeros investimentos para adaptar-se à nova realidade, mas temos muitos desafios para enfrentar este “engavetamento” que poderá degradar em muito os usos da internet.

Mas, retornando ao tema da universalização, estimativas do Minicom alertam que serão necessários investimentos da ordem R$ 50 bilhões nos próximos quatro anos do programa Banda Larga para Todos, sendo R$ 10 bilhões para atingir a todos os municípios e mais R$ 40 bilhões para atender a massa de domicílios sem a conexão. Esse é o grande desafio!

Benito Paret é Presidente do Sindicato das Empresas de Informática do Rio de Janeiro

Jornal: Brasil Econômico
Data: 26/11/2014
Caderno: Opinião
Autor: Benito Paret
Página: 22

 

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