O coelho e a tartaruga (Jornal O Globo)

BENITO PARET

Em setembro o presidente Lula reuniu-se com o Comitê Gestor do Programa de Inclusão Digital, ministros de Estado, BNDES e agências reguladoras. Discutiram por mais de três horas a estruturação de uma rede pública nacional de transmissão de dados em banda larga.

Analisou-se a interligação de redes setoriais já existentes, como a Rede Nacional de Pesquisas, a Eletronet, o uso das linhas elétricas da Eletrobrás e possibilidades de conexão por fibras ópticas com estatais e outras entidades públicas. É uma excelente notícia. O Brasil precisa de um Estado eficiente.

Temos também o projeto de Redes Comunitárias de Educação e Pesquisa-Redecomep, que promoverá até o fim do ano a implantação de redes metropolitanas comunitárias em 27 cidades, reforçando com conexões rápidas a área de ensino, pesquisa e desenvolvimento. Mas, de novo, não se enxerga a questão da infraestrutura para a internet de forma global. Teremos uma rede pública de primeiro mundo convivendo com um serviço de internet de terceiro mundo para o restante da população. O coelho ao lado da tartaruga.

Embora todos concordem que é urgente que se crie uma sólida rede de transmissão de dados em banda larga que cubra por inteiro o território nacional, como já se fez em todo o mundo desenvolvido, o que se tem discutido até aqui se resume à área pública e a questões de conteúdo.

Com a proximidade das eleições, o Congresso realizou longos debates sobre regras para a propaganda eleitoral na internet, o fenômeno das redes sociais, o uso do twitter e do orkut para o relacionamento com os eleitores. Estudam-se formas de combater a pedofilia na rede, enquadram-se sites de jogos ilegais. Só falta discutir a fundo como melhorar a eficiência e o acesso do cidadão comum e das empresas às redes de comunicação.

Mais que isso. Sem acesso democrático e em alta velocidade em banda larga para toda a sociedade — incluídas, evidentemente, as empresas — corremos o risco de comprometer o crescimento futuro numa economia global que se interliga cada vez mais pelas supervias de informação.

A questão que se coloca é qual o modelo que queremos para o desenvolvimento da área de tecnologia da informação no Brasil. Ninguém põe em dúvida o papel preponderante do setor de serviços na economia do século XXI. Basta ver a curva em crescimento exponencial do comércio eletrônico. Nem se duvida que sem uma sólida estrutura de TI nenhum país pode aspirar a grandes saltos de desenvolvimento no mundo que se desenha. Mas não basta reconhecer essa realidade.

É preciso que o governo, a quem cabe induzir o desenvolvimento e providenciar infraestrutura, passe do reconhecimento à ação. Na sociedade do conhecimento trafegarão cada vez mais, pelas grandes redes, arquivos integrados por vídeos e conjuntos de imagens em alta resolução. A convergência digital — aí incluída a HDTV, pagers, celulares, palm-tops e outras formas de conexão — exigirá um sistema de banda larga de alta velocidade.

O que se espera, portanto, é que as empresas e o cidadão comum, que acessam a internet, não sejam alijados dessa discussão.

Benito Paret é presidente do Sindicato das Empresas de Informática do Rio.

Fonte: O Globo
Data: 20/10/2009
Seção: Opinião
Página: 7

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