Nuvens e trovoadas

Você lembra quantas vezes já disse ao gerente de Tecnologia de Informação da sua empresa que seu negócio não é tecnologia, mas vender o produto para o qual ela foi criada? E que você está gastando cada vez mais homens/hora e dinheiro em megabytes de memória, CPUs, aplicativos e manutenção de rede de computadores quando deveria estar aumentando o investimento em marketing e em vendas?

Gastar menos em TI e mais no foco do próprio negócio é o sonho dos empresários. E é isso que alguém, daqui a pouco, estará lhe oferecendo, com o nome sofisticado de “cloud computing”. Ou “computação em nuvem”.

Se for um fornecedor agressivo lhe dirá para dizer adeus às preocupações com sistema operacional e hardware, licenças e atualizações de softwares. Prometerá, também, redução impensável de manutenção da infraestrutura física de redes e de instalação de softwares nos computadores corporativos.

A infraestrutura para que sua empresa passe a operar com uma solução em nuvem é bem mais enxuta do que a tradicional. Consome menos energia, refrigeração e espaço físico. E, se o vendedor for muito ousado (nunca duvide de até onde chegará a evolução tecnológica), lhe dirá que em poucos anos você dará adeus, também, aos seus micros, porque ao operar numa solução em nuvem seus empregados não precisarão muito mais que um teclado, mouse e monitor. O resto estará na web.

Tudo o que você hoje guarda em micros estará armazenado em computadores que poderão ser acessados de qualquer parte do mundo, a qualquer hora. Você não precisará comprar, instalar ou atualizar programas. Nem armazenar dados em sua empresa. O acesso será remoto. O PC torna-se apenas um chip ligado à internet, “a grande nuvem” de computadores. Seja uma empresa ou um usuário, em casa, precisará apenas dos dispositivos de entrada – teclado, (mouse?) – e saída – monitor. A nuvem de informação “é a nova fronteira”.

No trabalho corporativo a solução em nuvem facilita o compartilhamento de arquivos, já que as informações estão num mesmo “lugar”. Na nuvem. A maioria das empresas que oferecem esse serviço fornece aplicativos gratuitos. Você paga apenas pelo tempo de uso. Não paga pela licença. Essa é uma tendência de mercado, principalmente pelo controle de custos. Grande parte das empresas não sabe exatamente quanto gasta de TI nem quanto pode economizar.

O melhor dos mundos, não? Talvez venha a ser. Mas atenção: embora a novidade venha ganhando espaço, ainda é muito cedo para dizer se dará certo ou não. E a arquitetura em nuvem está repleta de riscos sérios de segurança.

Pesquisa recente detectou que quase metade (43%) dos responsáveis pela tomada de decisões em TI já registrou alguma falha ou problema de segurança com seu fornecedor de serviço em nuvem nos últimos 12 meses. E os recentes ataques de hackers a páginas públicas e privadas mostram como esse risco é real.

O futuro pode estar na nuvem. Mas nuvens podem se tornar cúmulos-nimbos, carregadas de raios e trovoadas.

* Benito Paret é presidente do Sindicato das Empresas de Informática do Estado do Rio de Janeiro.

Jornal: O Globo
Data: 30/06/2011
Caderno: Primeiro Caderno
Seção: Opinião
Autor: Benito Paret
Página: 07

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