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A aprovação do Marco Civil da Internet sem a obrigatoriedade de que os dados sejam armazenados no Brasil, como queria a presidente Dilma Rousseff, não alterou as perspectivas de crescimento do mercado brasileiro de data center. Segundo Paulo Gallindo, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), as projeções já contemplavam os riscos do Marco Civil. “A Brasscom alertou que uma situação como essa poderia gerar um problema de insegurança jurídica e, se fosse aprovada, haveria uma reversão para baixo nos investimentos”, diz Gallindo.
A Frost&Sulivan estima que o mercado de data center no Brasil seja de R$ 1,8 bilhão, com crescimento médio anual de 9,5% de 2011 a 2018, quando deverá atingir R$ 2,8 bilhões. “Somente o mercado de cloud pública – incluindo Software as a Service (SaaS), Plataform as Service (PaaS) e Infrastructure as a Service (IaaS) – é de R$ 328 milhões ao ano”, diz Bruno Tasco, analista sênior de tecnologia da informação da Frost&Sullivan.
Os números aproximam-se das estimativas da IDC. Segundo Pietro Delai, gerente de pesquisas da empresa, o uso de data center para a oferta de computação na nuvem vai crescer 67%, em média, nos próximos quatro anos, atingindo um mercado de cloud pública de R$ 1 bilhão no período.
Embora represente 58,8% do mercado latino-americano, o Brasil perde em competitividade. Pesquisa da Frost&Sullivan, feita a pedido da Brasscom, revela que os custos de instalação de um data center no Brasil são 48% mais altos que nos EUA e 37% superiores aos custos da Colômbia, o país mais competitivo da região. “É preciso uma articulação da União, Estados e municípios para ampliação da nossa competitividade”, diz Gallindo.
Apesar do alto custo, estão previstos investimentos de R$ 47 bilhões no país de 2013 a 2017. Gallindo diz que o interesse dos investidores está relacionado às características do mercado doméstico de tecnologia da informação. “Temos massa crítica e produção de conteúdo midiático e corporativo. Além disso, há uma demanda por processamento mais próximo. Se conseguirmos eliminar os entraves para a nossa competitividade poderíamos atrair investimentos para transformar o país numa plataforma de exportação”, analisa Gallindo.
Para Eduardo Carvalho, presidente da Alog, o potencial de crescimento do mercado brasileiro é ainda maior do que as projeções dos institutos de pesquisa se considerados dados divulgados pelo 451 Research – instituto de pesquisas americano – que apontam que, nos EUA, o processamento das aplicações corporativas é dividido em 50% em data centers externos e 50% nos sites próprios das empresas.
“Aqui no Brasil, essa relação é de 10% em provedores de data centers e 90% nas infraestruturas próprias. Isso dá a perspectiva de um potencial de mercado de 90%, ou, no mínimo, 40% para igualar com os EUA”, afirma Carvalho. A Alog conta com quatro data centers – dois no Rio e dois em São Paulo – e pretende ser o céu da nuvem, abrigando não só clientes finais, mas também provedores de serviços em cloud, que não enxerga como concorrentes. “Esses provedores permitem criar um ecossistema de negócios. O mesmo vale para as operadoras de telecomunicações, que podem oferecer serviços a seus clientes a partir de nossos data centers. Atraímos, ainda, os bancos para aplicações de disaster recovery. Com isso, temos apresentado um crescimento orgânico de 30% a 32% ao ano desde 2011”, diz.
O UOL Diveo quer se posicionar como o maior provedor de serviços na nuvem, que, segundo Gil Torquato, presidente da empresa, representa a grande quebra de paradigma do setor. A empresa conta com mais de 25 mil m² de infraestrutura, divididos em quatro grandes data centers em São Paulo. O crescimento anual é de dois dígitos.
“Temos 14 pentabytes de dados armazenados. É preciso energia e espaço físico. A cloud é uma solução de economia de energia, concentra e aumenta a densidade e o poder de processamento e reduz a necessidade de espaço físico. Isso é uma revolução. Nossa oferta de cloud permite trazer todo o legado do cliente, que passa a ter ganhos de escala e a pagar apenas pelo que utiliza”, acrescenta Torquato. A empresa oferece, ainda, a plataforma UOLDIVEO Brocker para a venda de ações. “Isso é possível porque a Bovespa é nosso cliente e, com isso, conseguimos uma latência menor, oferecendo serviços com maior velocidade”, explica.
A Localweb começou focada nas pequenas e médias empresas, mas hoje 25% da receita já vêm de grandes corporações. Com crescimento de 15% ao ano, conta com um data center próprio e utiliza as instalações da Terremark, operação de data center da Verizon. Flávio Jansen, presidente da empresa, diz que, apesar de atuar num mercado competitivo, o provedor local tem a vantagem de oferecer menor latência.
“Um ponto positivo das discussões envolvendo o Marco Civil da Internet é que as empresas tomaram consciência da necessidade de saber onde seus dados estão armazenados, quando antes se preocupavam apenas com performance. Se a empresa não sabe onde suas aplicações são processadas, está sujeita e enfrentar questões judiciais fora da jurisdição brasileira”, observa Jansen.
André Echeverria, gerente geral da divisão de nuvem para empresas da Microsoft Brasil, diz que, embora a companhia conte com 11 regiões que abrigam infraestrutura local do Azure – a plataforma de data center da empresa -, muitos clientes querem que os dados residam no país. A empresa anunciou, em 5 de junho, o início das operações comerciais da Azure no Brasil. Entre os diferenciais da plataforma está a interoperabilidade e a nuvem híbrida.
A Embratel conta com um data center em Brasília, dois no Rio de Janeiro e dois em São Paulo – um deles Tier III – numa área total de 4000 m², devendo chegar a 5000 m² com o novo data center do Rio de Janeiro, que está em fase de construção. A empresa beneficia-se, ainda, da infraestrutura da América Movil, que tem data centers em Bogotá, Buenos Aires e México. “Podemos oferecer a centralização dos serviços de data center num país, sendo que os serviços de um site de disaster recovery poderiam estar em outro”, diz Ney Acyr Rodrigues, diretor executivo da Embratel.
Fornecedores verticalizados – como IBM e HP – têm de dinamizar o negócio de data center e de serviços na nuvem, sem, porém, descuidar do negócio de venda de produtos de hardware e software. Ailton Santos, chefe de tecnologia e diretor de portfólio HP Enterprise Services, diz que, na forma como são hoje, os data centers não são sustentáveis. “O consumo de energia da nuvem representa 2% do consumo mundial e, até o final da década, vai chegar a 30%”, afirma Santos.
Ele diz que a HP endereça o mercado de data centers de forma evolucionária – com a oferta HP Cloud System, voltada para a construção de clouds privadas com baixo consumo de energia -, e também de maneira por meio da solução HP Moon Shot que utiliza os conceitos de data center definido por software. As duas soluções incluem plataformas de hardware e software.
Site: Valor Econômico
Data: 27/06/2014
Hora: 05h
Seção: Empresas
Autor: Carmen Nery
Foto: Valor Econômico
Link: http://www.valor.com.br/empresas/3595450/numeros-de-peso