
No ano passado, 28% dos 5.740 pedidos de patentes de invenção registrados no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) foram originados de instituições de ensino superior e pesquisa (IEs) brasileiras. Em 2023, segundo a Fapesp, essa fatia foi de 24,7%.
A importância dos números: nos Estados Unidos, apenas 5% dos depósitos de patentes têm IEs como primeiro titular, segundo a Fapesp.

Em um momento em que as deep techs – startups de tecnologia com base científica – são vetores de mudanças de impacto na economia global (basta ver a disrupção causada pela IA no mercado), incluir a academia como protagonista na criação de novos negócios e fontes de receita é fundamental para iniciativas de inovação aberta (Open Innovation) das empresas brasileiras.O Brasil ocupa a 14ª posição global em produção científica, mas vem caindo posições na colaboração entre universidades e empresas. Em 2013, o país estava em 42º lugar; dez anos depois, caiu para a 78ª posição.
Uma das iniciativas brasileiras que visa mudar o contexto é o projeto Catalisa ICT, do Sebrae Nacional, que visa converter pesquisas acadêmicas em inovações disruptivas capazes de fomentar o desenvolvimento econômico e social do país. O projeto abriu inscrições para sua segunda rodada até dia 9 de março (acesse o edital), que prevê captar até 2000 projetos de inovação, selecionando, no final, até 150 novas deep techs que serão aceleradas.
A iniciativa é uma porta de entrada para pesquisadores e potenciais desenvolvedores de boas ideias científicas. Mestres, mestrandos, doutores e doutorandos com pesquisas com potencial de inovação em várias áreas do conhecimento vão receber capacitação para elaborar seu plano de inovação e a chance de se conectar e receber apoio financeiro (Etapas 02 e 03). É uma grande oportunidade para transformar pesquisas em soluções tangíveis, inovadoras e possivelmente transformadoras.
O Catalisa usa os princípios de inovação aberta para conectar startups, empreendedores e organizações para desenvolver colaboração dentro do ecossistema de inovação no país. Noportifólio das empresas do Catalisa estão companhias de origem acadêmica que impactam desde setores mais tradicionais como Alimentos e Bebidas, Construção, Educação e Equipamentos Industriais, até Agropecuária, Fármacos e Cosméticos e Petróleo, Gás e Energia, que incorporam e aplicam tecnologia de ponta em suas pesquisas, desenvolvimento e operações.
Deep techs subindo a ladeira
O Brasil, com Argentina e Chile, está entre os maiores investidores em deep techs na América Latina e Caribe, segundo um estudo recente do BID Lab. Com mais investimento, esse número pode ser bem maior. O relatório “Deep Techs Brasil 2024”, elaborado pela Emerge, aponta que 70% das deep techs encontram-se na fase de superar o desenvolvimento da tecnologia.
Das 875 deep techs brasileiras mapeadas pelo relatório da Emerge, 67% estão na Região Sudeste, mais da metade delas (55%) em São Paulo. A geografia da inovação tem muito a ver com a quantidade de recursos de fomento para deep techs, em especial pela FAPESP via PIPE (Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas), aponta o relatório. Pelo menos 28% das deep techs receberam recursos dessa fonte – lembrando que programas de subvenção e fomento público e investidores anjos representam 70% dos investimentos em deep techs.
O potencial do Brasil em deep techs é grande, começando pelos recursos naturais e passando pelo fato de que o país abriga 77% de todos os pesquisadores da América Latina, de acordo com o BID.
Estamos falando de um contingente de cientistas capaz de gerar volume de pesquisas, que podem levar a soluções de impacto, como aponta a Wylinka. A organização tem como meta transformar o conhecimento científico em aplicações práticas inovadoras disponíveis no mercado. Mas o principal desafio da Wylinka, diz Ana Calçado, CEO da organização, é “destravar” o caminho para a inovação acontecer.
Em 2025, pela primeira vez o Brasil foi classificado como “top location”, definição dada a países com mais startups de qualidade. É um passo importante para que o país possa atrair investimento. O ecossistema de deep techs pode atrair de US$ 140 bilhões a US$ 200 bilhões em investimentos até o final do ano, de acordo com o “Meeting the Challenges of Deep Tech Investing”, do BCG. E uma fatia poderia vir para cá.
Fonte: The Shift