O marco civil da internet, em vigor há quase um ano, vai receber contribuições da sociedade, por meio de consulta pública, até o fim deste mês, nos seus pontos mais polêmicos (neutralidade e privacidade). Mas o impacto de suas mudanças no mundo corporativo ainda é pouco avaliado. “A maioria das empresas brasileiras não sabe quais são os riscos a que estão expostas, nem quais as consequências para seu negócio das mudanças que estão ocorrendo no ambiente de governança da internet, em termos de regulamentação”, comenta José Laurino, sócio da área de cyber risk services da consultoria global Deloitte.
Segundo ele, a empresa montou no país uma área de consultoria dedicada a prestar serviços de segurança da informação, especialmente voltada para companhias do setor financeiro, telecomunicações e ecommerce.
O foco de atuação está relacionado à proteção das informações sensíveis de negócio. Tecnicamente, em termos de parque de tecnologia, as empresas brasileiras estão bem preparadas, avalia ele. “Quando entramos na discussão dos requerimentos regulatórios da internet, como o marco civil, de aspectos de multas, de proteção de dados sensíveis de negócios, de vazamentos e da privacidade, essas corporações se mostram pouco preocupadas, ou deixam essas questões em segundo plano”.
O avanço da computação em nuvem traz novas inquietações ao mundo dos negócios. E isso vem sendo acompanhado de perto, igualmente, por especialistas do meio jurídico e fornecedores de tecnologias de proteção de dados e ameaças cibernéticas. O escritório de advocacia paulista Assis e Mendes, especializado em direito digital, por exemplo, relaciona pelo menos 40 processos citando o marco civil da internet, nos tribunais de justiça de São Paulo.
São processos envolvendo Facebook, UOL, Google, Whatsapp, além de operadoras de telecom, que pedem remoção de conteúdo, de perfis e páginas falsos, indenização por envio de spam, pagamento de indenização por fraudes em compras na web, etc. “Com o aumento do volume de usuários da nuvem, as empresas estão descobrindo a vulnerabilidade de suas infraestruturas de redes”, diz Adriano Mendes, responsável pela área de processos digitais.
A situação no ambiente da web melhorou com a adoção do marco civil. Mas não se pode esperar que ele resolva “todos os males que nos afligem”, observa Demi Getschko, conselheiro do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) e diretor presidente do Núcleo de Informação e Coordenação (NIC.br).
Para a indústria financeira, por exemplo, o marco civil é quase inócuo, destaca Ricardo Barone, diretor geral da GAS (Gerador Automático de Sistemas), empresa do grupo Diebold, um dos maiores fabricantes de equipamentos de automação de agências e de autoatendimento bancário do Brasil.
Site: Canaltech
Data: 25/02/2015
Hora: 5h
Seção: Empresas
Autor: Genilson Cezar
Link: http://www.valor.com.br/empresas/3927600/impacto-do-marco-civil-da-internet-e-pouco-conhecido#