Gerir pagamentos e aplicativos são duas das demandas mais importantes para as quais as empresas de TI devem atentar, segundo Luciana Pegorer, diretora executiva da Associação Brasileira da Música Independente – ABMI e coordenadora do painel “TI e Música” em companhia de Luiz Carlos Sá Carvalho. Ela explica que nas atuais formas de comercialização da música, os pagamentos têm inúmeras fontes e são feitos em valores pequenos, que, somados, representam o bolo do faturamento de uma produção musical: “Gerir estes pagamentos sem ferramentas de TI é tarefa insana.”, afirma.
Na outra parte da demanda, a dos aplicativos, lembra que os artistas utilizam inúmeras ferramentas para criação, divulgação de seus trabalhos, administração redes de fãs, campanhas, análise de dados etc: “Sem ferramentas que analisem e organizem todo este trabalho, muitos dados importantes para avaliação de risco e sucesso são perdidos.”.
Os temas estarão em discussão na tarde do dia 4 de julho no painel “TI e conteúdos digitais: oportunidades no mercado da música”, que discutirá experiências concretas de promoção de música e gestão de propriedade na Internet.
Pegorer, com 21 anos de atuação na indústria da música e atuando como consultora da Warner Music Brasil para os repertórios clássico e jazz e de empresas brasileiras e estrangeiras sobre o mercado brasileiro de música, afirma que a TI alterou o modo contemporâneo de compor, com a utilização de novas ferramentas para composição que colaboram com este processo.
Ressalta também a moda de criação coletiva pela web e a valorização dos Djs. Mas revela uma certa insatisfação: “Nada, no entanto, a meu ver, substitui o talento, o esforço criativo e o contato humano no processo criativo. Na minha opinião os artistas precisam resgatar o modo de compor antigo, que resultou nos mais importantes movimentos criativos da música brasileira. O último movimento criativo interessante que aconteceu no Brasil foi o Mangue Bit na década de 90”
Com experiência como palestrante em seminários nacionais e internacionais e membro do conselho diretor do Merlin (merlinnetwork.org) e WIN (winformusic.org), entidades internacionais com sede em Londres, fundadas com o objetivo de fortalecer o mercado fonográfico independente, avalia que as tecnologias geraram oportunidades para que empresas pequenas e artistas independentes cuidem sozinhos da produção e distribuição de seus conteúdos. O aspecto negativo, diz, está no retorno financeiro: “A remuneração neste mercado está mais difícil. A música por excesso de exposição, facilidade de acesso e produção, perdeu em qualidade e em valor. É muito mais difícil ganhar dinheiro com música gravada hoje em dia.”
O avanço da TI, afirma, causou o colapso das grandes gravadoras por ter quebrado várias barreiras de entrada. Desde a redução do custo de produção/fabricação até a democratização da distribuição de conteúdo musical que hoje circula pela rede. Pegorer diz que a inovação tecnológica sempre teve grande impacto no mercado de música, que já passou por inúmeras transformações desde o início do desenvolvimento do fonógrafo. “A diferença para esta última inovação tecnológica, leia-se MP3 e internet, foi que pela primeira vez a mudança não foi comandada pela indústria da música. Ao contrário, ocorreu à sua revelia e oposição. Por este motivo o impacto desta vez foi maior e jogou toda uma indústria em uma crise profunda que ainda não se dissipou”
Sócia proprietária do selo/produtora Delira Música (www.deliramusica.com) ela aponta que a indústria como um todo aposta no modelo de streaming por assinatura. Diz que valores distribuídos hoje são pequenos, mas que com o aumento da base de assinantes ao longo do tempo, o mercado crê na retomada de faturamento dos tempos áureos da indústria, embora com mais empresas e artistas remunerados nesta cadeia.
Para ratificar sua aposta, recorre a dados, segundo os quais o modelo “gratuito”, remunerado por publicidade, não tem retornado bons resultados financeiros para o setor da música. “Pelos números de 2015 divulgados recentemente, diz, sabemos que pessoas que compraram assinaturas de serviços premium (por assinatura) como o Apple Music, Google Play Music, Deezer e Spotify gastaram uma média de US$ 42,65 cada no ano. A base é de 68 milhões de assinantes. No streaming financiado por publicidade a base é de 900 milhões de pessoas. Cada um destes consumidores gerou 70 centavos de dólar para os selos e artistas em todo o período de 2015. Isso representa uma diferença de espantosos 42 dólares por pessoa em relação aos serviços por assinatura”
Fonte: IAA Comunicação