Os modelos disruptivos da economia digital que atingem hoje setores como o de táxi e hotéis com o Uber e o Airbnb, poderá alcançar também a medicina. Startups do Vale do Silício que atuam em pelo menos duas áreas – sensores e genômica – estão começando a desafiar os modelos da área de saúde com o que está ficando conhecido como a medicina digital.
Segundo Bernardo Peixoto, gerente de novos negócios da Eco Sistemas, a medicina atual age mais nas áreas de diagnóstico e terapêutica de forma reativa, mas os avanços tecnológicos envolvendo captura em larga escala de dado digital contribuem para alterar o cenário da cadeia de valor em saúde.
“Os maiores avanços ocorrem na área de sensores – vestíveis (wearables), injetáveis (injetables) e ingeríveis (ingestables) – e na genômica, que avança na mesma velocidade da Lei de Moore, em relação aos microprocessadores. Desde 2001, quando foi publicado o primeiro genoma humano, mais de 250 mil genomas foram mapeados, lidos e analisados em diversos laboratórios ao redor do mundo. A expectativa é de que, nos próximos dez anos, serão dois bilhões de sequenciamentos feitos com um quarto da população, o que vai permitir a tão sonhada medicina personalizada”, descreve Peixoto.
Ele conta que o custo para o mapeamento genômico caiu cinco ordens de grandeza em 15 anos e um sequenciamento pode ser executado ao custo de US$ 15. Isso tem viabilizado novos negócios e muitas empresas de nanotecnologia vêm desenvolvendo soluções para que o processo de sequenciamento seja mais rápido.
Um exemplo é a Ilumina, startup que recebeu uma oferta pública hostil da Roche no valor de US$ 62 bilhões e conseguiu rejeitá-la convencendo os acionistas de seu imenso potencial de mercado. Hoje é avaliada em US$ 100 bilhões. A empresa vai oferecer um serviço semelhante à Apple Store para que a indústria crie soluções a partir das informações genômicas.
Outra classe de empresas são as Direct to Consumer Companies (DTC) como a 23andme, que envia ao consumidor um kit para ele colher material genético, como a saliva, e envia de volta para a empresa executar a análise de mais de 100 doenças que a pessoa possa vir a desenvolver.
“Isso gerou uma reação corporativista das associações de classe da área de saúde que denunciaram a empresa à FDA (Food and Drug Administration), agência reguladora americana para a área de saúde. A agência analisou esta e outras DTCs e mandou encerrar o serviço de análise clínica até que haja um entendimento da indústria”, informou Peixoto.
Ele diz que o potencial de análise se eleva, sobretudo, quando se junta às informações genômicas as postagens em redes social. Não por acaso a 23andme comprou a rede social de pacientes Together.
“O que se assiste hoje é uma mudança de paradigma na cadeia da saúde. O modelo de negócios se baseia na oferta de serviços de genoma na nuvem. Muitos suportam crowdfunding e opt in. Em relação aos sensores, empresas de equipamentos, como a Philips, estão criando linhas de serviços de monitoramento. De 30% a 40% de parâmetros de análise clínica podem ser medidos por sensores. Mas há desafios de interoperabilidade e modelo de negócios”, concluiu.
Fonte: Rio Info