“Mulheres ganham, em média, 75% do salário do homem. No caso de mulheres negras cai para 50% (Banco Mundial). Entre os funcionários de tecnologia apenas 30% são mulheres e delas somente 7% chegam aos cargos de gestão, dentre as quais menos de 1% são negras.” Esses foram alguns dos dados do “Raio X da desigualdade na TI” apresentados por Thaisa Ranieri (Confitec) durante o seminário “Diversidade na TI: Mulheres e Negros querem seus espaços”, realizado na manhã desta segunda-feira.
Segundo Thaisa, o PIB mundial poderia aumentar mais de 300 bilhões se houvesse equiparação salarial entre os empregados no setor, tomando como parâmetro os homens brancos. Coordenado por Ivan Accioly, o seminário apresentou um amplo painel sobre o tema. Desde o acesso ao ensino de tecnologia, os processos de recrutamento e seleção, as oportunidades de trabalho, o desenvolvimento de carreiras e o desenvolvimento de lideranças jovens.
Como resultado imediato foi acordada a criação de um grupo de trabalho para continuidade das discussões e estabelecimento de processos com metas para inclusão no mercado de trabalho. Leizer Pereira (Comunidade Empodera) destacou o potencial de suporte do grupo e das entidades, por meio, por exemplo, de mentorias que podem ser oferecidas aos jovens iniciantes no mercado de trabalho. “Fico feliz de ver tanta gente boa unida pela causa nobre da promoção da igualdade racial.”, afirmou.
Mariana Britor apresentou casos como a vez em que recrutou um negro e uma mulher para duas vagas, mas teve as escolhas barradas pelo superior. No caso do negro a preocupação levantada foi de que havia o risco de ele ser barrado nos prédios onde teria que dar atendimento em nome da empresa. “Podem achar que o crachá dele é falso, afinal hoje em dia há muita gente falsificando para roubar”, disse o superior. Já no caso da mulher, ele disse que poderia trazer problemas, pois algum cliente poderia assediá-la, gerando constrangimento para a empresa. Ou seja, o superior esteriotipizou o negro como bandido e a mulher passou a ser responsável pelo possível crime do qual seria a vítima. Mariana se demitiu da empresa
Karen Pacheco (TIM) falou sobre sua experiência como mulher jovem, negra e africana em sua carreira no Brasil. Narrou as diferentes formas de preconceito, referentes às questões raciais, por ser estrangeira e de gênero, desde sua chegada ao Brasil para fazer a faculdade. “Muitas vezes adotarmos uma postura rígida para nos defendermos da descrença nas nossas formações. Passamos pelas mesmos cursos dos homens, aprendemos as mesmas coisas, mas isso não adianta. Nos tratam como se fossemos dar resultados inferiores. Sem falar do assédio sexual. É ruim e seria desnecessário, mas nos endurecemos para sobreviver.”
A jornalista Cláudia Silva ressaltou que as dificuldades para as mulheres aumentam quando associadas à idade. “O mercado fecha as portas às mulheres, pior ainda se já passaram dos cinquenta.” Wanderson Trindade (ProLíder e Rio Hacker Space) falou sobre a criação de equipes para disputa de hacktons e assegurou que as melhores soluções sempre vêm de equipes formadas por pessoas de diferentes origens. Já Nuno Azevedo (ID-BR) apresentou o projeto “Sim à igualdade racial” que atua junto às empresas para ampliar a presença de negros. Josivan Sabino (Firjan) apresentou um pouco de sua trajetória profissional, marcada por diferentes obstáculos, afirmou que “nesse mundo tão quadrado da TI, foi estimulante participar do debate.”
A importância de times mistos e seus benefícios no impulso à inovação são destacados por Ivan como motivações para a abertura das empresas à diversidade. Ele destaca que negros e mulheres são sub representados nas empresas de TI e diz que pessoas com diferentes formações e histórias de vida, têm visões diversas sobre uma mesma questão e, dessa forma, também podem ter diferentes soluções. “A inclusão de novos personagens, com diferentes vivências, impulsionará a inovação.”