Políticas públicas com foco nas potencialidades regionais podem fortalecer o setor de tecnologia da informação, a despeito da crise econômica. Esse foi o principal tema em debate no 29º Fórum TI Rio, realizado no dia 5 de novembro pelo Sindicato das Empresas de Informática do Estado do Rio de Janeiro (TI Rio).
O presidente do TI Rio, Benito Paret, esteve à frente do encontro, que reuniu o economista e professor da UFRJ, Mauro Osório; o professor do Departamento de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Jorge Nogueira de Paiva Britto; e o professor e economista, Tito Ryff. O evento teve transmissão ao vivo pela TIRio TV e pode ser assistido em http://tirio.tv
Benito Paret chamou a atenção para a distância entre a realidade do mercado do setor de tecnologia da informação e as pesquisas desenvolvidas nas universidades, que não têm se transformado em produtos e serviços. Também destacou a retração no número de profissionais no mercado de trabalho e lembrou que o estado do Rio de Janeiro é o único da Região Sudeste que não conta com uma política de fomento ao setor, o que o coloca em situação de inferioridade competitiva.
– Na Região Sudeste representávamos 15% dos postos de trabalho da TI brasileira. Hoje, representamos 14%. Isso é uma coisa que nos preocupa profundamente. Enquanto São Paulo fechou, até agosto, com um saldo positivo de 2.428 empregos, o Rio teve um saldo bastante negativo. Perdemos 884 postos de trabalho – afirmou o presidente do TI Rio, observando que a principal dificuldade enfrentada pelo setor é a ausência de uma política de fomento efetiva.
– A essa análise, o professor Mauro Osório acrescentou que o Rio tem pouca tradição de reflexão regional:
– Para termos uma ideia, dos programas de mestrado e doutorado em Economia no Rio de Janeiro, nenhum deles tem uma linha de pesquisa permanente sobre a economia urbana fluminense. A falta dessa reflexão regional organizada permite que lobbies atuem com mais desenvoltura, não necessariamente representando o que seriam os interesses da maioria da população.
Plano diretor de tecnologia é uma alternativa
Segundo o professor, o cenário é propício à formação de uma agenda para o Rio de Janeiro, ou seja, propostas que identifiquem no estado o que os economistas chamam de “janela de oportunidade”.
– Outros estados fazem isso. São Paulo, por exemplo, detectou uma série de janelas em torno do que a gente pode chamar de complexo de petróleo e gás. O Rio teria muitas janelas em torno da economia do conhecimento, de multimídia, de informática.
Tito Ryff fez avaliação semelhante à dos colegas sobre o cenário do Rio, mas foi além, afirmando que falta ao Estado um plano diretor de ciência e tecnologia, que poderia servir de orientação à atividade, independentemente de governos:
– A partir daí, sim, teríamos uma política de incentivos voltada para a solução de problemas. Creio que vamos viver uma nova revolução tecnológica, similar ou
até mais profunda do que aquela que ocorreu no século XIX. Há claramente alguns vetores nesse processo, como a nanotecnologia, a robótica, a tecnologia da informação, a engenharia genética, a biotecnologia.
Ryff explicou que a tecnologia da informação tem a característica de ser transversal, de estar presente em todas as atividades sociais e econômicas.
– Há quem diga que, no futuro, todas as empresas serão, de alguma forma, de tecnologia da informação, tal a sua presença na atividade delas. Então, precisamos de
uma política que procure vislumbrar a evolução dessas inovações tecnológicas ao longo do tempo e ver quais são as oportunidades que já temos, com o conhecimento abrigado nas universidades e centros de pesquisa que possa ser aproveitado em benefício do desenvolvimento regional.
Momento de realizar mudanças
O professor Jorge Brito criticou a tradicional política de desenvolvimento no Rio, baseada na concessão de incentivos fiscais pontuais:
– Esse padrão claramente tem limites, que apontam para outras possibilidades, como, por exemplo, você fundamentar políticas públicas no fortalecimento de um sistema regional de inovação.
Na avaliação de Brito, uma base sólida de geração de conhecimento funciona decisivamente como motor para o desenvolvimento:
– Neste sentido, o papel das políticas públicas é fundamental.
Mas acho que não se resume à questão da ciência e da tecnologia e sim à identificação de outros setores estratégicos e de problemas específicos que possam ser minorados.
Infraestrutura precisa melhorar
Os participantes do 29º Fórum foram unânimes ao apontar a necessidade de um plano diretor para o Estado e de melhorias na infraestrutura, para viabilizar o desenvolvimento econômico.
– Como destacou o professor Britto, a infraestrutura é absolutamente precária na Região Metropolitana.
Outro dia, um empresário me falou que iria transferir a sua fábrica de Duque de Caxias para São Paulo, por conta das constantes quedas de luz – disse Mauro Osório.
Jorge Brito fez uma analogia futebolística para definir o problema:
– Em termos de infraestrutura local e de exploração do potencial, o Rio já está há algum tempo na segunda divisão, na comparação com os outros estados.
Como retomar o caminho do crescimento
Ao fim do encontro, Benito Paret observou que a proposta do Fórum não é ter uma postura otimista, desconectada da realidade, mas levantar propostas básicas para o setor sair da crise:
– Temos que verificar as nossas potencialidades, as nossas capacidades, para fortalecer as atividades. Precisamos juntar os esforços, dos cidadãos, das empresas, do poder público, buscando alternativas para criar novas oportunidades e empregos de qualidade. Não podemos ficar vestidos de bombeiros, tentando apagar o incêndio, ou imaginar que estamos afogados, com salva-vidas tentando nos resgatar. Nós sabemos nadar. Temos capacidade para enfrentar as correntezas, que não são favoráveis, mas podem ser um grande caminho para a retomada.
Fonte: O Globo
Data: 12/11/2015
Editoria: Economia
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