6º Fórum SEPRORJ – Tecnologia da Informação e Segurança Pública

<| left>>O Rio de Janeiro é um dos estados com maior capacidade para desenvolver inovações tecnológicas baseado em suas universidades e no setor empresarial de Tecnologia da informação, mas há pouco conhecimento sobre as formas eficazes de aplicação dessas ferramentas. Essa foi a principal conclusão do Fórum “Tecnologia da Informação e Segurança Pública”, evento que o Sindicato das Empresas de Informática do Estado do Rio de Janeiro (SEPRORJ) organizou na segunda-feira desta semana para analisar os impactos da adoção de Tecnologias de Informação e Comunicação na questão da segurança pública.

Na abertura do evento, o segundo promovido pela entidade nesse ano, o presidente do SEPRORJ, Benito Paret, afirmou que os instrumentos tecnológicos disponíveis são conhecidos dos setores privado e público, mas demandam uso eficiente para trazer os resultados desejados. “Temos tecnologia para transformar a segurança pública em um caminho de resultados concretos. O Rio tem uma forte base de dados
e inteligência para analisá-los. Mas é preciso colocar a tecnologia da informação em algo efetivo a serviço do bem-estar da sociedade. Os desafios que a segurança pública nos impõe são enormes e esse fórum é uma colaboração para chegarmos a soluções adequadas,” afirmou.

O fórum contou com a participação do especialista em soluções de segurança Horácio Soares Neto, do deputado estadual Alessandro Molon (PT), que integra a Comissão de Segurança Pública da Alerj, e do superintendente de Telecomunicações e Informática da Secretaria de Estado de Segurança Pública, Marcelo Maia, que representou o Secretário José Mariano Beltrame.

Dados apresentados pelo deputado Molon demonstram que o Estado do Rio investe pouco no desenvolvimento de tecnologias de informação. Segundo ele, dos R$ 3,6 bilhões dos recursos destinados à área de segurança pública no Estado, em 2005, apenas R$ 70 mil foram investidos neste fim. A situação ficou ainda pior no ano passado, quando nenhum centavo dos R$ 4,2
bilhões dos recursos da segurança foi alocado em TI. Um outro dado que o parlamentar apresentou, com base no relatório da CGU (Controladoria Geral da União), revela que dos R$ 52 milhões que o Estado recebeu do governo federal, também em 2005, para compra de aparelhagem para a segurança pública, R$ 43 milhões – ou seja, mais de 80% – foram mal aplicados.

Mais tecnologia, menos violência

O deputado Alessandro Molon exaltou a produção de conhecimento no Estado, apesar de sua pouca aplicação na área de segurança pública. O parlamentar afirmou que o uso da tecnologia está diretamente ligado à redução da violência, porque faz uso de serviços de inteligência. “Os investimentos nesta área são fundamentais para que o país não volte a recorrer aos métodos truculentos do passado”, avalia.

O deputado falou sobre o mau uso dos recursos da área de segurança pública em serviços de inteligência e tecnologia de informação e listou seis questões relacionadas
ao tema que, até o governo passado, apresentavam resultados que deixavam a desejar:

IBIS – Sistema que escaneia projéteis extraídos dos corpos de vítimas para identificação da arma de fogo utilizada no crime. Além de facilitar a identificação, auxilia na análise de outros crimes de características semelhantes. Equipamento que custa mais de R$ 1 milhão,funciona apenas quatro horas por dia por falta de pessoal qualificado para sua operação.

GPS – Ausência de monitoramento pelo sistema GPS – rastreador de veículos – nas viaturas policiais. Das delegacias ou batalhões não há como saber onde os carros estão, o que dificulta o controle das ações policiais.

Bangu II – Os bloqueadores de celular não funcionam, pelo menos para todas as operadoras. É preciso que o governo do Estado firme parcerias com as empresas de telefonia móvel para investir em tecnologias que façam o bloqueio efetivo de todos os aparelhos.

Escuta telefônica – O Estado vai
receber um equipamento de escuta para casos autorizados pela Justiça, mas não tem software nem pessoal treinado para operar o equipamento.

Polícias – O banco de dados das Polícias Civil e Militar estão interligados? De que formam operam em parceria para melhorar a eficiência da segurança pública?

Geomonitoramento – Sistema que já é usado em Minas Gerais e que identifica por meio da tecnologia padrões de repetição de crimes: locais, horários etc. Permite às polícias se anteciparem aos crimes mais fúteis e fez cair significativamente a criminalidade em pontos críticos de Belo Horizonte.

Primeiro o problema, depois a solução

Há muito mais preocupação com as soluções que as diversas opções tecnológicas oferecem do que com o conhecimento efetivo do problema e a solução específica que ele requer. Traduzindo em miúdos: pensa-se mais no tiro do que no alvo. A opinião é do especialista Horácio Soares Neto, que foi um dos responsáveis pelo choque
de gestão aplicado no Detran-RJ, um dos órgãos que já foi considerado dos mais corruptos do Estado e que se transformou numa referência nacional.

Na sua avaliação, as ferramentas de tecnologia só trarão resultados eficazes e concretos se aplicadas de forma correta para o problema que se quer atacar: “É preciso primeiro identificar o problema para depois buscar a tecnologia adequada à solução que se pretende. E nem sempre ela terá que ser a mais sofisticada. A tecnologia tem que ter compromisso com o alvo”, afirmou ele.

Para ilustrar, Soares Neto recorreu aos atentados de 11 de setembro de 2001, quando os Estados Unidos, país detentor das mais sofisticadas tecnologias de segurança e de estruturas como o FBI e a CIA foram alvo de uma ação planejada, inovadora e que com ferramentas adequadas – os aviões – obteve êxito

Um exemplo do uso ineficiente da tecnologia – por mais revolucionária que ela possa parecer – são as carteiras de identidades emitidas nos
últimos cinco anos pelo Estado do Rio de Janeiro. Pouca gente sabe, mas desde então o documento tem um código de barra impresso no verso que reproduz as informações constantes na frente do documento. A tecnologia serve para identificar se a pessoa que o apresenta é realmente o seu titular e certifica sua autenticidade. “Esta é uma solução inovadora maravilhosa, mas ninguém usa. O alvo não foi bem definido. É um caso típico em que se tem a solução para um problema, mas não se implementa”, concluiu.

Rio terá mais investimentos em TI

O Rio de Janeiro nunca recebeu tanto investimentos em inteligência e tecnologia voltadas para a área de segurança como agora. Quem afirma é o superintendente de Telecomunicações e Informática da Secretaria de Estado de Segurança Pública, Marcelo Maia, com base na preparação da cidade em função dos Jogos Pan-Americanos desse ano. Segundo ele, o plano de segurança prevê que toda a cidade seja monitorada por câmeras para dar suporte
aos inúmeros eventos que acontecerão a cada dia. Também até o Pan, todas as viaturas policiais serão monitoradas pelo sistema GPS.

O superintendente listou várias ações do governo no sentido de trazer eficiência e mais segurança com base nos recursos tecnológicos, como as Delegacias Legais. Segundo ele, 70% delas já estão integradas com suporte de informática. Outro investimento é no sistema 190, número gratuito de acesso à polícia, para impedir que o serviço continue sendo vítima de trotes. Maia disse que mais da metade das ligações é brincadeira de desocupados. Com o monitoramento dos locais de onde são originadas as chamadas, o governo acredita que reduzirá o mau uso e aumentará os resultados.

Marcelo Maia afirmou que é um compromisso do governo do Estado aplicar 30% dos recursos destinados à segurança pública, inclusive aqueles repassados pelo governo federal, ao desenvolvimento da tecnologia da informação.

Fonte: Jornal OGlobo, 31/05/2007

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