A discussão sobre produção e consumo de software com menor impacto pautou o XVI Fórum SEPRORJ (Sindicato das Empresas de Informática do Rio de Janeiro), com o tema “Produção e consumo de software na perspectiva da sustentabilidade”. Empresários e especialistas em Tecnologia da Informação (TI) participaram do evento na sede da entidade no último dia 17. O presidente do SEPRORJ, Benito Paret, lembrou que, em abril, a entidade lançou a cartilha “Diretrizes para a prática em responsabilidade socioambiental”, na qual afirma o compromisso das empresas que congrega com o desenvolvimento sustentável.
O SEPRORJ entende que as empresas devem praticar a responsabilidade social através de três focos. O primeiro, a responsabilidade em relação à sociedade, que tem como objetivo principal o consumo energético dos equipamentos e a redução do lixo eletrônico. O segundo é relacionado às condições de trabalho que permitem o bom aproveitamento profissional e a permanente preocupação com a capacitação tecnológica e o entrosamento entre os funcionários. E por último é o da responsabilidade da empresa de TI como produtora de soluções e as conseqüências de suas ações para seus clientes. “Um software que tenha falhas pode levar a desastres como vazamentos de plataformas de petróleo ou quedas de aeronaves”, destacou Paret.
Para o presidente do SEPRORJ, há necessidade de se refletir sobre a constante atualização de máquinas e programas no setor de TI. E indagou: “Esta obsolescência tecnológica é real ou forçada pela indústria, que nos leva a trocas incessantes de plataformas em períodos cada vez menores?”, enfatizando a importância de políticas públicas que privilegiem projetos de reaproveitamento de materiais descartáveis.
Coleta seletiva – Em fase de regulamentação, a Política Nacional de Resíduos Sólidos deverá normatizar diferentes práticas de coleta seletiva, incluindo o material descartado pelo setor de informática. A informação foi dada pela secretária de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Samyra Crespo, que aposta no Brasil como uma futura liderança internacional em sustentabilidade.
“Nossa legislação é extremamente avançada neste campo, há empresas que seguem a lei à risca e há diversas iniciativas voluntárias que se antecipam à implantação de medidas reguladoras. Um dos exemplos é a redução de sacolas plásticas nos supermercados, que partiu do próprio setor”, disse Samyra, que elogiou o empenho de instituições como o SEPRORJ, em firmar programas de sustentabilidade, quando o conceito no país sequer está consolidado no país. “ É positivo saber que existe um genuíno interesse dos produtores com a alfabetização ecológica da sociedade”, acrescentou.
Armando Caldeira-Pires, professor da Universidade de Brasília (UnB), defendeu a inclusão de mais cadeiras de desenvolvimento sustentável nas faculdades de engenharia, de onde saem boa parte dos profissionais de informática. “A formação ecológica das empresas deve começar na escola”, disse ele, especialista em Engenharia Mecânica.
Tecnologias limpas – O aspecto econômico como atrativo para investimento em tecnologias limpas foi levantado por Bruno Salgado Guimarães, diretor-executivo da Clavis Segurança da Informação. Segundo ele, a gestão ambiental e social deve ser encarada pelo retorno que vai gerar. “Existe um retorno econômico imediato, quando se buscam soluções adequadas, como máquinas que consomem menos energia. E ainda há o retorno em marketing, que gera novos negócios”, afirmou.
Na avaliação do diretor da Nexo CS Informática, Ricardo Doner, os selos de certificação socioambientais facilitam a disseminação do conceito para os consumidores. “É importante reforçar que existe uma categoria de software com este tipo de indicador”, disse.
Entre as sugestões levantadas no encontro está a criação de um prêmio – a ser concedido por uma entidade da própria categoria – para as empresas de informática que tenham práticas sustentáveis. O diretor do SEPRORJ Luiz Bursztyn, que mediou o debate, lembrou que o setor ainda está construindo uma consciência ecológica. “Há muitas empresas que já se empenham em promover o desenvolvimento sustentável, enquanto outras desconhecem o que podem fazer para aprimorar sua eficiência. O processo apenas começou”, disse.
Jornal: O Globo
Data: 21/12/2010
Caderno: Economia
Página: 29