Os Estados Unidos estavam em plena corrida espacial no início dos anos 1960, com o objetivo de colocar um homem no espaço antes da URSS. A NASA liderava o projeto, no qual existia uma função muito demandada, as computadoras, cuja tarefa consistia em apoiar a pesquisa com a realização de cálculos matemáticos.
Katherine Johnson era uma matemática brilhante, que trabalhava como um dos computadores humanos no projeto. Pela precisão em seus cálculos, fora promovida para o Grupo de Missão Espacial da NASA.
A despeito de sua habilidade, em determinado momento é afastada do grupo de pesquisa, sob a alegação de que sua função de calcular não se fazia mais necessária, porque seria desempenhada pelo computador IBM que estava sendo instalado no centro de estudos espaciais.
Até o final do filme veremos que ela dá a volta por cima: seu conhecimento matemático extrapolava a mera capacidade mecânica de cálculo, e por conta disso ela desempenharia papel fundamental nas pesquisas relacionadas à corrida espacial ao longo das décadas seguintes.
Dorothy Vaughan é supervisora informal de um grupo de “computadoras negras”: ela percebe que o computador em instalação, com a capacidade de realizar inúmeros cálculos em fração de segundos, fatalmente redundaria na substituição dos então existentes “computadores humanos”, inclusive os membros de sua equipe.
Após inúmeras tentativas os engenheiros da IBM ainda enfrentavam problemas para que o computador entrasse em operação. Dorothy, que é curiosa, lê o manual do equipamento e começa a estudar Fortran, a linguagem de programação necessária para fazer a maquina funcionar. E expõe para sua equipe o desafio a enfrentar: se atualizar profissionalmente com os estudos em programação, de forma a superar a ameaça que cercava suas carreiras, e preparar-se para o futuro.
O filme nos mostra que, à medida que a tecnologia evolui, novos desafios se apresentam para os profissionais, e novas oportunidades surgem no mercado de trabalho. O importante é ter a capacidade de percebê-las e sair na “frente do tempo”, indo além das estrelas….como nos exemplos de Katherine, Dorothy e sua equipe de programadoras.
Analogias com situações do filme podem ser encontradas no nosso cotidiano: novas tecnologias, com o uso da inteligência artificial e do poder da internet, colocam os profissionais no limiar de uma era de mudanças fundamentais na forma como o conhecimento é utilizado e disponibilizado na sociedade.
Imaginar que tais mudanças ameaçarão carreiras tradicionalmente estabelecidas é um ledo engano, como tratamos em publicação anterior: a nova realidade não significará o fim de profissionais como os advogados, auditores, médicos e professores, entre outros.
Mas sim que haverá uma inevitável transformação no desempenho das suas atividades e no relacionamento com aqueles que usufruem de seu conhecimento especializado, a partir da incorporação criativa da tecnologia.
Tal fenômeno também vem ocorrendo no âmbito daqueles que lidam diretamente com a tecnologia da informação e da comunicação (TIC), como os analistas de sistemas, programadores e demais especialistas no domínio da informática: os profissionais do futuro neste campo são os analistas voltados à segurança da informação, concepção e implementação de arquiteturas de nuvem, desenvolvimento ágil (DevOps), plataformas de desenvolvimento de aplicativos móveis(iOS, android…), bigdata e ciência de dados, e entendimento das oportunidades de uso estratégico da tecnologia nos negócios, entre outros.
Olhar o futuro “além das estrelas”, entender e apontar os caminhos e criar condições para a capacitação dos especialistas de hoje e do amanhã, estes são os desafios estratégicos que se colocam à frente dos educadores e das próprias categorias profissionais.
Como ainda aprendemos com as “estrelas além do tempo“, chega primeiro quem se prepara para o que ainda não existe ou está começando a existir. Isto vale tanto para os profissionais dos domínios de conhecimento especializado como para os que atuam diretamente com a tecnologia.
Mas de que forma conseguimos ver além das estrelas e cruzar na frente a linha de chegada? Antes de tudo estando aberto a pensar de forma criativa, estabelecendo conexões até então não percebidas no contexto das atividades objeto de estudo: foi o que aconteceu na criação da Amazon.com, exemplo exaustivamente citado mas ainda extremamente válido como estudo de caso de inovação e criatividade.
Tais iniciativas devem ocorrer tanto na academia como no ambiente das comunidades e organizações, sobretudo por meio da aplicação de métodos inovadores para geração de valor nos negócios, estímulo ao auto-aprendizado, busca espontânea de conhecimento e treinamento aplicado de metodologias e ferramentas, entre outros meios.
Fonte: Blog Newton Fleury