BENITO PARET*
O saldo positivo da balança comercial brasileira recuou 67% no primeiro quadrimestre e vários analistas já indicam déficit progressivo até o final do ano. Embora as exportações em abril tenham subido 23% sobre abril do ano passado, as importações subiram 60,8%. Esses dados fizeram o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, fazer um alerta: “A questão é que a indústria nacional não pode perder vendas no mercado doméstico, já que lá fora a grande concorrência com outros, como a China, e o câmbio tiram competitividade dos produtos nacionais.”
Esse é o ponto. Levantamento feito pela Confederação Nacional da Indústria com 1.581 empresas entre janeiro e fevereiro mostra que seis em cada dez companhias já perderam clientes na tentativa de competir com a China. De acordo com esse estudo, 54% das indústrias analisadas disputam mercado com concorrentes chineses. E 6% dos grupos privados ouvidos tiveram de parar de exportar por conta da ofensiva asiática. A perda de terreno no comércio internacional afeta principalmente as pequenas e médias companhias.
Diante disso, a solução mais saudável é agregar valor aos nossos produtos e aumentar a competitividade da indústria e dos serviços brasileiros, para fazer frente à concorrência dos importados. E isso se faz com redução de custos e investimento em inovação. Principalmente em Tecnologia da Informação. Em 2009, segundo dados da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, os dispêndios privados com pesquisa e desenvolvimento foram de R$ 11,6 bilhões. É muito pouco.
Como enfrentar uma China que absorverá nos próximos dez anos 350 milhões de novos operários oriundos do campo e dispostos a trabalhar a qualquer preço? Como concorrer com Índia e tigres asiáticos que investem bilhões de dólares em tecnologia e educação?
Essas são as novas questões a serem respondidas. E não há melhor lugar para isso do que a IV Conferência Nacional de Tecnologia, Ciência e Inovação, que ocorrerá em Brasília nos próximos dias. O tema não poderia ser mais oportuno: Política de Estado para Ciência, Tecnologia e Inovação visando ao desenvolvimento Sustentado. Sem política de Estado consequente e objetiva nosso sonho de desenvolvimento sustentado naufragará na inundação globalizada.
O Brasil está diante de uma encruzilhada: ou investe maciçamente em ciência, tecnologia e inovação para aumentar a competitividade de sua economia, ou volta à velha fórmula de manipular o câmbio e elevar barreiras alfandegárias.
*Benito Paret é presidente do Sindicato das Empresas de Informática do Rio de Janeiro.
Jornal: O Globo
Data: 17/05/2010
Caderno: Primeiro Caderno
Seção: Opinião
Autor: Benito Paret
Página: 7