Benito Paret
Orgulhamo-nos do aumento do uso de computadores e de celulares no país. No entanto, não discutimos com a devida atenção, o acúmulo de lixo eletrônico provocado por este consumo crescente. Haverá o crescimento na produção deste lixo de 10 milhões de toneladas em 2010, para 18 milhões em 2015. Os processos de reciclagem dos eletrônicos no Brasil, no entanto, não se desenvolvem. Faltam interesse das indústrias e adesão popular. Estou convencido que solução para o problema depende de ação conjunta do setor produtivo, dos governos e da sociedade.
Temos um total de 136 milhões de computadores em uso por empresas e usuários domésticos, de acordo com a 25ª pesquisa anual do uso de tecnologia nas empresas feita pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas.
O estudo afirma que há dois computadores para cada três habitantes, uma densidade de 67% per capita. A estimativa é que em 2014 sejam vendidos um PC por segundo no país, um total de 27,8 milhões durante o ano. Desse modo, em 2016, haverá um PC por habitante, mais de 200 milhões de computadores.
Os tablets ajudarão o mercado de computadores a continuar crescendo. Com ajuda destes dispositivos o mercado cresceu 19% em 2013 e tem a previsão de aumentar em 10% este ano. A densidade de telefones celulares e fixos no Brasil passou a dos EUA, com 158%. Isso significa que há mais de 300 milhões de aparelhos, ou seja, três para cada dois habitantes.
Cada aparelho tem vida útil específica: a do celular cerca de dois anos e dos computadores de três a cinco. Segundo dados do IDEC, em média, a cada cinco anos, 51,6% de todos os computadores e 42,3% dos celulares do país apresentarão algum defeito.
O destino desses equipamentos sem uso e os perigos do descarte sem cuidados de segurança é um risco, pois em suas composições contêm substâncias nocivas, como chumbo, mercúrio, cádmio ou berílio.
Pela Lei 12.305/2010, regulamentada pelo decreto 7.404/2010, foi instituída a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que estabelece a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos e abrange toda a cadeia produtiva, consumidores e serviços públicos de limpeza urbana. Obriga fabricantes, importadores, comerciantes e distribuidores a implementarem um sistema para o retorno após o uso.
Um dos pontos fundamentais é a chamada logística reversa, um conjunto de ações para facilitar o retorno dos resíduos aos seus geradores, para que sejam tratados ou reaproveitados em novos produtos.
Devido à complexidade de materiais que compõem os aparelhos, separar os metais, polímeros e materiais cerâmicos torna-se um processo complicado e consequentemente caro.
Três processos são aplicados, o reuso, quando um equipamento que não atende a uma pessoa é direcionado a outra. A remanufatura, com adaptação da sucata com o mesmo fim e atualização para recuperar seu desempenho, e a reciclagem, quando o material é transformado em nova matéria-prima.
O consumidor está acostumado a jogar esse material direto nos lixos, ou, guardá-lo em casa, mesmo que não esteja mais funcionando.
O Sindicato das Empresas de Informática do Rio (TI Rio) desenvolve há três anos campanhas junto às empresas filiadas para recolher os equipamentos sem uso e já coletou 10 toneladas de “lixo eletrônico”. Creio que, por meio de campanhas educativas e da criação de uma infraestrutura adequada, temos condições de equacionar este problema, porque, sem dúvida, ao contrário, o avanço da tecnologia pode se transformar numa grande ameaça para a humanidade.
Benito Paret Presidente do Sindicato das Empresas de Informática do Rio de Janeiro – TI Rio
Jornal: Brasil Econômico
Data: 01/10/2014
Caderno: Opinião
Autor: Benito Paret
Página: 30