O armazenamento de dados na nuvem, antes um serviço gratuito oferecido por gigantes da tecnologia como Google e Microsoft, tornou-se uma preocupação crescente para universidades públicas brasileiras. As mudanças nas políticas dessas empresas, anunciadas pelo Google em 2021 e pela Microsoft em fevereiro deste ano, reformularam os planos de armazenamento quase ilimitado para a comunidade acadêmica, resultando em custos adicionais para instituições e indivíduos, além de fomentar um debate sobre a dependência digital. É o que aponta matéria do portal Época Negócios.
Esses serviços são amplamente utilizados para guardar artigos acadêmicos, dados científicos, documentos, certificados e conteúdos pessoais. “Quando Google e Microsoft começaram a impor restrições, as universidades se tornaram reféns. Quem tinha recursos contratou o serviço, quem não tinha, teve que se adequar. Poucas instituições mantêm serviços próprios; a maioria paga ou reduziu a oferta de espaço”, explica Lidiane da Silva, gestora da Unifesp e coordenadora do Colégio de Gestores de TI das universidades, vinculado à Andifes.
Um caso emblemático ocorreu na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), onde 14 mil contas de e-mail foram apagadas, juntamente com seus dados, gerando desespero na comunidade acadêmica. A UFJF esclareceu que essas contas, criadas desde 2007 por iniciativa de membros da Faculdade de Engenharia, não eram geridas pela reitoria. Em agosto, o Google notificou a instituição sobre o uso indevido de algumas contas para armazenar conteúdos não acadêmicos, como séries e materiais protegidos por direitos autorais.
A universidade alertou os alunos sobre o encerramento das contas até 30 de novembro, recomendando a migração imediata dos dados. No entanto, três dias antes do prazo, o Google desativou todas as contas, apagando materiais acadêmicos e pessoais irreparáveis. A situação gerou tensão na UFJF, com a reitora Girlene Alves da Silva e pró-reitores recebendo ameaças. A administração destacou que essas ações são infundadas e estão sendo tratadas com seriedade, com medidas legais em andamento. Alunos afetados, como Paulo Amorim, relataram falta de apoio e perda irreparável de dados de pesquisa e documentos.
O Google ofereceu armazenamento ilimitado entre 2007 e 2021, mas desde então limitou-o a 100 terabytes, insuficiente para uma instituição inteira. Essa política tem sido implementada gradualmente, como na USP, que em maio deste ano anunciou um limite de 100 gigabytes para contas institucionais.
Ewout ter Haar, professor do Instituto de Física da USP, argumenta que universidades devem manter sua capacidade técnica e organizacional para gerenciar suas próprias infraestruturas, evitando a dependência excessiva de terceiros. Ele alerta para os riscos de privacidade associados aos serviços do Google, conforme análise do governo holandês, que identificou riscos significativos à legislação de proteção de dados devido à falta de transparência e limitação de finalidade no processamento de dados.
Texto: Redação TIRio