Benito Paret
Uma das maiores conquistas da sociedade brasileira, nos últimos anos, foi a fixação de metas para aumentar o conteúdo nacional nos contratos de construção de plataformas para produção de petróleo firmados pela Petrobras.
Essa decisão, assim como a atribuição de pesos diferenciados de acordo com o índice de nacionalização proposto pelos concorrentes nos editais de licitação de blocos exploratórios pela ANP, promoveu uma revolução sem precedentes na indústria offshore brasileira. Uma revolução que, além de gerar milhares de novos empregos, fez renascer a indústria naval e espalha-se por centenas de subsetores da cadeia produtiva.
Mais que isso. Uma revolução que promove o florescimento de um novo parque tecnológico, que integra universidades, centros de pesquisa e fornecedores internacionais.
Esse exemplo é a prova mais evidente de que é possível promover um grande impacto no desenvolvimento econômico, científico e tecnológico, com a adoção de políticas públicas acertadas.
Estruturalmente, qual foi o segredo do florescimento dessa indústria? Antes de tudo, foi a criação de demanda. A decisão de privilegiar a cadeia produtiva brasileira e dar-lhe facilidades de crédito e infraestrutura, para que ela pudesse produzir no volume e na qualidade requeridos. E ela mostrou que, quando estimulada responde à altura. Esta é a razão pela qual o setor de bens e serviços para a área de petróleo é o que mais cresce, no Brasil, entre os segmentos industriais.
Não há momento mais propício do que este, quando o Brasil inicia uma nova etapa de sua história, para refletir sobre a melhor forma de ampliar essa política, cuja concepção se deve muito à ex-ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, agora presidente da República.
Poucos setores se ajustam tão bem a um novo passo, nesse caminho, do que a indústria de software. Por várias razões. Em primeiro lugar, porque, como na área do petróleo, os órgãos públicos, em todos os níveis, concentram a maior demanda por produtos e serviços dessa indústria. Depois, porque esse é um setor vital da economia, cujo potencial de crescimento é praticamente infinito, dominado por empresas estrangeiras. Além disso, é um dos setores que mais gera empregos e exige constante para sobreviver.
É preciso reconhecer que o governo federal tem feito mudanças importantes para incentivar a inovação e a área de tecnologia da informação. O último exemplo é a medida provisória nº 495, recém-editada, que procura privilegiar as empresas brasileiras nas concorrências públicas.
Como no setor de petróleo, é preciso fazer um Prominp da informática, que forme mão de obra qualificada. É importante, também, organizar as pequenas e médias empresas, formando pool de fornecedores, para fortalecê-las na relação com os órgãos públicos; obrigar as grandes empresas estrangeiras a produzir no Brasil e transferir tecnologia; integrar o meio acadêmico ao setor privado, apenas para ficar em alguns exemplos.
Enfim, o que se fez na área do petróleo prova que podemos fazer. E a hora é agora.
Benito Paret é presidente do Sindicato das Empresas de Informática do Rio de Janeiro.
Jornal: O Globo
Data: 05/01/2011
Caderno: O País
Seção: Opinião
Autor: Benito Paret
Página: 7