Desde janeiro de 2015, a Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj) também tem sentido o efeito da crise econômica e fiscal do estado com a queda de arrecadação do ICMS e atrasos nos repasses de recursos. O Conselho Superior e a diretoria da instituição têm procurado atenuar esses efeitos. Entretanto, algumas ações não podem esperar, como a recente formação da maior rede brasileira de pesquisa em zika, chicungunha e dengue, constituída por 379 grupos, reunindo mais de mil pesquisadores fluminenses.
A filantropa americana Woodard Lasker (1901-1994) afirmava: “Se você pensa que pesquisa é cara; experimente a doença”. Não há frase mais atual do que esta diante da epidemia de zika no país. Epidemias e outros desafios chegam sem avisar e precisam encontrar a ciência e a tecnologia nacionais bem estruturadas para combatê-los, vide o exemplo de investimentos que o governo de Barack Obama, nos EUA, pretende fazer no campo da pesquisa em zika, ao solicitar autorização do Congresso para liberar US$ 1,8 bilhão (cerca de R$ 7,2 bilhões), o equivalente a 20 vezes o orçamento atual da Faperj.
Na contramão dessa ação está uma proposta de redução de 50% no orçamento atual da Faperj, enviada à Alerj pelo governo do estado. Caso este corte se concretize, haverá uma paralisia histórica nas ações da fundação. Hoje, os centros de pesquisa do Rio de Janeiro são líderes nacionais e internacionais em várias áreas, como nanotecnologia, pesquisa de energias renováveis, estudos de dependência química, estudos de doenças degenerativas e câncer, pesquisa com células-tronco, pesquisa em doenças infecciosas e antropologia, entre outros.
Na década de 1990, o Estado do Rio viveu um grande retrocesso nas universidades e institutos de pesquisa. As dezenas de instituições viram seus orçamentos diminuírem a ponto de algumas fecharem e outras perderem seus melhores quadros, que partiram para outros estados e países. Nos últimos dez anos, essa situação foi revertida em grande parte devido aos investimentos da Faperj, especialmente quando, em em 2007, o governo estadual passou a destinar 2% da receita líquida para Ciência, Tecnologia e Inovação, conforme a Constituição estadual.
1 – Quatro universidades públicas fluminenses estão entre as 20 melhores em ranking nacional, sendo a UFRJ a segunda colocada;
2 – a produção por instituição do estado aumentou mais de 70% entre 2006 e 2014;
3 – o estado teve um crescimento no número de pós-graduação de excelência, alcançando 22% dos programas mais bem avaliados no país;
4 – as três universidades estaduais (Uerj, Uenf e Uezo) tiveram aumento de produção;
5 – instituições estaduais como o Instituto Vital Brasil, a Faetec e o Instituto Estadual do cérebro Paulo Niemayer têm tido recursos que foram cruciais para alavancar suas pesquisas;
6 – o Estado do Rio tem liderança na pesquisa biomédica e de biotecnologia, especialmente em dengue e em doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, respondendo por 33% da produção de artigos inéditos no país;
7 – 19 centros de pesquisa de empresas internacionais como General Electric e a L’Oreal foram atraídos para cá;
8 – o estado criou programas de estímulo à inovação, como Startup Rio, e parcerias com empresas como Peugeot, Vale e rede D’Or;
9 – a pesquisa fluminense é reconhecida internacionalmente, com destaque para vários cientistas, sendo um bom exemplo a outorga da Medalha Fields, o Prêmio Nobel de Matemática, a Artur Ávila, o primeiro brasileiro a recebê-la.
Executivo, Legislativo, Judiciário, empresários, pesquisadores e toda a sociedade devem abrir amplo debate sobre esta proposta de corte orçamentário de 50% da Faperj. Será que este é o melhor remédio para a crise do estado ou preferimos correr o risco de matar o doente?
Fonte: O Globo
Data: 14/02/2016
Página: 17
Autor: Jerson Lima Souza